Naquele que foi o primeiro 'briefing' deste ano do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação no Kosovo, Caroline Ziadeh começou por se focar nos resultados das últimas eleições, frisando que foram "notavelmente pacíficas, embora não isentas de complicações técnicas e apelos por parte dos partidos políticos".
"Foi especialmente encorajador notar os ganhos na representação feminina, que resultaram no aumento da presença das mulheres na Assembleia do Kosovo sem depender da quota de género de 30% prevista pela Lei sobre Eleições Gerais. Felicito o povo do Kosovo por mais uma eleição pacífica e inclusiva", disse a representante da ONU.
Após a certificação dos resultados, no mês passado, Ziadeh disse aguardar agora a formação atempada do próximo Governo, reconhecendo que tal poderá exigir negociações complexas.
Os resultados oficiais das eleições legislativas no Kosovo, publicados mais de um mês depois do sufrágio, confirmaram a vitória do partido do primeiro-ministro cessante, Albin Kurti, mas sem uma maioria que lhe permita governar sem coligação.
A contagem dos votos foi muito demorada, sobretudo devido à avaria das máquinas da comissão eleitoral no dia da votação e à contagem dos votos da grande diáspora.
Vetevendosje (Autodeterminação), o partido de Kurti, obteve 42,3% dos votos, anunciou a Comissão Eleitoral Central (CEC), conquistando 48 dos 120 lugares no Parlamento.
Kurti deve agora tentar formar uma coligação. Se não o conseguir, a oposição pode tentar formar uma coligação própria.
Uma vez implementado o novo executivo, Caroline Ziadeh considera imperativo que sejam tomadas medidas para priorizar o bem-estar do povo do Kosovo, assim como a implementação dos compromissos assumidos no âmbito do Diálogo facilitado pela União Europeia (UE), e avançar no processo de normalização das relações Pristina-Belgrado.
A chefe da Unmik defendeu que os progressos realizados em dezembro, quando Belgrado e Pristina concordaram com os termos de referência para a Comissão Conjunta sobre Pessoas Desaparecidas, sirvam de inspiração para avançar noutras áreas de diálogo.
Além da difícil situação económica de um dos países mais pobres da Europa, quem conseguir formar Governo terá também a tarefa quase impossível de relançar as negociações com a Sérvia, para as quais a comunidade internacional faz pressão.
As relações entre o Kosovo e a Sérvia, que nunca reconheceu a independência da sua antiga província em 2008, nunca foram pacíficas e as tentativas de normalização das relações falham regularmente.
Só o êxito das negociações permitirá ao Kosovo e à Sérvia aderirem à UE, à qual ambos são candidatos.
Na reunião de hoje do Conselho de Segurança, Sérvia e Kosovo voltaram a trocar acusações, com o ministro das Relações Exteriores sérvio, Marko Djuric, a tecer duras críticas ao processo eleitoral do Kosovo, indicando que "será difícil, se não impossível, descrever essas eleições como livres e justas".
O ministro afirmou que as condições no terreno, dificultadas pela retórica e ações de Albin Kurti contra a população sérvia, tornam cada vez mais difícil um ambiente propício ao diálogo ou à reconciliação.
"O diálogo continua a ser o único caminho viável a seguir, mas deve ser construído com base na confiança. o cenário que apresentei aqui hoje é realmente sombrio", avaliou Marko Djuric.
"Acreditamos que a melhor maneira de reiniciar o diálogo é construir a confiança tão necessária através da cooperação económica e conectividade de infraestrutura, ao mesmo tempo em que fazemos esforços para implementar todos os compromissos assumidos até agora", acrescentou.
Por sua vez, a sua homóloga kosovar, Donika Gervalla-Schwarz, declarou que o Kosovo é um verdadeiro exemplo de como a intervenção internacional contra o genocídio "permitiu o estabelecimento e o florescimento de uma democracia europeia e ocidental completa".
A ministra acusou então a Sérvia de tentar desestabilizar a democracia do Kosovo, não apenas através da retórica, mas por meio de ações concretas e violentas que colocam em risco a paz e a segurança regionais.
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