A história de Leo Schofield não só é 'digna' de filme, como está a ser contada num podcast intitulado 'Bone Valley'. Já na segunda temporada, o relato dá conta da história de vida deste homem, que seis meses depois de ter casado com Michelle foi acusado da sua morte, sem que qualquer prova física o tivesse conectado ao homicídio.
Segundo conta a publicação The New York Times, o corpo de Michelle foi encontrado com 26 facadas num canal em Lakeland, no estado norte-americano da Florida. Tudo aconteceu a 27 de fevereiro de 1987 e, já na altura, nenhuma das impressões digitais que foram encontradas no carro desta mulher de 18 anos teve correspondência com as do marido.
Leo Schofield ficou atrás das grades durante 36 anos - garantindo sempre a sua inocência -, e saiu em liberdade condicional apenas em abril de 2023, oito anos depois de o verdadeiro assassino, Jeremy Scott, ter confessado o crime.
At 5:59 am yesterday, Leo Schofield walked out of prison after serving 36 years for a crime he did not commit.
— Gilbert King (@Gilbert_King) May 1, 2024
We accompanied him to a halfway house. Stay tuned for a special bonus episode of #BoneValley pic.twitter.com/MvhGcECFi4
Aos dias de hoje - e já com várias confissões por parte de Scott-, Leo Schofield ainda luta por anular a sua condenação. Para além da situação que tirou anos de vida a um inocente - e continua a restringir-lhe a liberdade -, o podcast fala também de perdão, dado que foi isso que aconteceu entre Schofield e Scott.
"O perdão não tem a ver com a pessoa que nos magoou", explicou Schofield numa entrevista recente, citada pelo New York Times. "Trata-se de nós, que fomos magoados, e de nos libertarmos dos efeitos dessa mágoa", considerou, acrescentando que os dois homens envolvidos nesta história tiveram "a oportunidade de encerrar um capítulo."
Para além deste crime, Scott confessou ainda outro homicídio, pelo qual nunca foi acusado. Quanto á confissão, Schofield disse sobre o homem que matou a esposa: "Fazer o que Jeremy fez é monumental. Foi precisa muita coragem e integridade."
O envolvimento de Jeremy neste caso foi conhecido já em 2024, quando as autoridades descobriram que as impressões digitais pertenciam a Scott, que já cumpria pena de prisão perpétua por ter agredido um homem até à morte.
Quando falaram, houve um "sentimento de realização"
Algumas das vezes que Scott confessou o homicídio foi na presença de Gilbert King, o criador do podcast em questão. Muitas vezes, Scott ligava a King desde a prisão, mas o que nunca tinha acontecido era que um destes telefonemas acontecesse quando King estava na companhia de Schofield - o que aconteceu em fevereiro.
O jornalista, que já arrecadou um Pulitzer em 2013, perguntou a ambos se queriam conversar um com o outro e aconteceu, naquilo que Schofield descreveu como ter sido um "sentimento de realização."
Para a King, a situação é incompreensível. "Ele está a tentar ajudar e confortar este homem que matou a sua mulher e que foi a razão pela qual passou 36 anos na prisão", salientou King, acrescentando: "É algo que eu nunca vou entender."
Note-se que durante o seu tempo na prisão - e agora também - Schofield envolveu-se com atividades de reinserção social. "É preciso passar por sítios muito sombrios para chegar a esse nível de perdão", continuou o jornalista.
Mas segundo o New York Times, Schofield não estaria pronto para perdoar desta forma Scott. "Desenvolvi algum respeito e afinidade por ele. Queria dizer-lhe que o perdoo genuinamente e, mais importante, queria que ele soubesse que há pessoas que se preocupam com ele e que o querem ver bem. Porque ele nunca vai sair", apontou.
O homem confessa, no entanto, que há dias que se sente "quase culpado" sobre ter perdoado o homem que matou a sua esposa, mas que a situação "não é sobre Jeremy, mas sim sobre si."
"É muito libertador para o nosso espírito. Não quero viver com um monte de raiva. Já tive muito disso na prisão", recordou.
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