Dezenas de pessoas reúnem-se em Paris num concerto contra extrema-direita

Dezenas de pessoas reuniram-se hoje num concerto em Paris "em defesa do Estado de Direito posto em causa pela extrema-direita" do partido União Nacional (RN) de Marine Le Pen.

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Lusa
12/04/2025 20:48 ‧ há 11 horas por Lusa

Mundo

Paris

"Há uma questão grave num poder central nas nossas instituições: a justiça. Uma decisão de justiça foi tomada sobre o RN e Marine Le Pen e automaticamente foi contestada como se os juízes fossem políticos que os atacaram ao tomar uma decisão política, quando só aplicaram a lei no exercício das suas funções", disse à Lusa Manuel, de 42 anos.

 

Cerca de trinta associações e sindicatos, incluindo a Confederação Geral do Trabalho (CGT), a SOS Racismo e a Liga dos Direitos Humanos (LDH), convocaram a manifestação em "todas as cidades de França" para defender a "democracia" e o "Estado de direito", na sequência dos ataques e das críticas dirigidas aos juízes após a condenação de vários dirigentes do RN, incluindo a líder Marine Le Pen, por desvio de fundos do Parlamento Europeu entre 2004 e 2016.

Para Audrey Cagniant, de 46 anos, que tinha um cartaz com as frases "4 milhões 'um detalhe'. Le Pen ultrajada Le Pen queimada! Le Pen martirizada mas Le Pen condenada!", "as pessoas estão extremamente perdidas politicamente, aproximando-se de ideais que são perigosos".

"Mas com ou sem condenação, eu não sei se realmente isso vai influenciar as eleições presidenciais", disse Audrey Cagniant, acrescentando que esta "não é uma luta contra a extrema-direita, é uma luta contra a fraude" qualquer que seja o partido.

Num dia nublado em que os manifestantes demoraram a chegar, a chuva foi um inimigo da manifestação durante a tarde na Place de la Republique, em Paris, que em pouco tempo ficou resumida a algumas dezenas de pessoas a dançar e cantar com os artistas de vários estilos musicais que se apresentaram num palco com a frase "destruir o Estado de Direito é destruir a democracia".

"Estamos cansados" e "somos todos anti-fascistas" foram algumas das expressões proferidas pelos manifestantes de todas as idades e alguns de outras zonas do país, que seguravam cartazes com frases como "democracia ameaçada reajam", "não toquem no meu Estado de Direito", "a extrema-direita fala todos os dias".

Embora Manuel acredite que esta manifestação não mudará nada, considera que "é importante que os cidadãos compreendam os assuntos que lhes interessem, e o Estado de Direito é algo que interessa a todos", por isso, as pessoas devem mobilizar-se e revoltar-se.

"Não devemos pensar que uma decisão política é suficiente para lutar contra a extrema-direita. É uma decisão que é importante, porque assinala que houve atos graves que foram cometidos e que são condenáveis, e que o RN que se diz a favor da ordem, está contra os juízes", afirmou Manuel.

"Eu acho que não é uma manifestação que muda algo, são as manifestações e a repetição, e o facto de mostrar que, sistematicamente, estamos aqui, e que não deixamos mais espaço para a extrema-direita", afirmou Bruno de 54 anos, membro do Sindicato dos Artistas da Confederação Geral do Trabalho (CGT).

Para Bruno, "a cultura é uma das pautas preferidas da extrema-direita", por essa razão deslocou-se à manifestação para "defender o Estado de Direito, mas também defender um serviço público da cultura realmente financiado e eficaz", diferente do "projeto cultural que a extrema-direita tem a intenção de desenvolver, que consiste, em geral, em proteger as igrejas".

"Eu não vejo nada de anormal" na condenação de Marine Le Pen, afirmou Bruno, referindo que a deputada francesa "até beneficiou de um pequeno tratamento de favores", que poderá ser claro se ela perder no recurso.

No dia 31 de março, Le Pen foi condenada a quatro anos de prisão, dois dos quais não suspensos e sujeitos a um sistema de vigilância eletrónica, a uma multa de 100.000 euros e a cinco anos de inelegibilidade, a cumprir imediatamente e aplicados mesmo em caso de recurso.

Embora Marine Le Pen conserve o seu mandato de deputada pelo Pas-de-Calais, as consequências políticas da decisão são inescapáveis: enquanto se aguarda uma decisão futura, não poderá candidatar-se a nenhuma eleição durante um período de cinco anos, ou seja, até depois das eleições presidenciais previstas para 2027.

"Mas, de qualquer forma não importa que esta condenação tenha acontecido ou não, e que Marine Le Pen seja inelegível ou não, haverá sempre alguém do RN para se apresentar (nas eleições presidenciais), e teremos sempre de lutar contra o RN, no plano político e nas urnas", defendeu Manuel.

Para a jovem Sibylle, de 17 anos, "é muito importante defender a democracia" e participar na manifestação é mostrar "que não estão de acordo com o que está a acontecer" em que a líder da extrema-direita "não aceita ser condenada pela justiça".

Esta ação, que contou com a presença do primeiro secretário do Partido Socialista, Olivier Faure, e outros deputados eleitos, sucedeu-se um comício convocado pelo presidente do RN, Jordan Bardella, na semana passada em Paris, que segundo a polícia francesa reuniu cerca de 7.000 pessoas apoiantes de Marine Le Pen.

Leia Também: Tarifas? Governador do Banco de França pede "mobilização geral" da Europa

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