Trégua de Páscoa entre Rússia e Ucrânia: Foi cumprida? Como correu?

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, decretou, no sábado, uma trégua unilateral no conflito com a Ucrânia devido à celebração da Páscoa, ordenando assim a paragem de "todas as operações militares". No entanto, durante o período de cessar-fogo, ambos os países apontaram o dedo um ao outro por faltarem ao combinado. 

Note-se que a pausa na guerra começou às 18h00 de sábado (16h00, em Lisboa) e estendeu-se até à meia-noite de domingo (22h00, em Lisboa). 

"Devido a considerações humanitárias, hoje, das 18 horas à meia-noite de domingo para segunda-feira, o lado russo declara uma trégua de Páscoa. Ordeno que todas as ações militares sejam suspensas durante este período", disse o porta-voz do Kremlin, no sábado, deixando também o aviso de que se a Ucrânia "não seguisse o exemplo", as tropas russas estavam prontas para agir. 

Após o anúncio de Moscovo, Volodymyr Zelensky reagiu e acusou o seu homólogo russo de "mais uma tentativa de brincar com a vida das pessoas". Mais tarde, no sábado, o chefe ucraniano recorreu às suas redes sociais para propor à Rússia um alargar das tréguas para 30 dias, ou seja, até dia 20 de maio. 

"Se o cessar-fogo for realmente efetivo, a Ucrânia propõe prolongá-lo para além do dia de Páscoa, 20 de abril. É isso que revelará as verdadeiras intenções da Rússia - porque 30 horas são suficientes para fazer manchetes, mas não para medidas genuínas de criação de confiança. Trinta dias poderiam dar uma oportunidade à paz", referiu Zelensky.

Zelensky acusa: "Ilusão de cessar-fogo"

No domingo, o presidente ucraniano fez o ponto de situação das primeiras horas do cessar-fogo decretado pela Rússia e acusou Vladimir Putin de querer passar uma "ilusão", isto porque foram reportados vários bombardeamentos e ataques de drones pelas tropas russas. 

"A Rússia deve cumprir as condições do cessar-fogo. A proposta da Ucrânia de estender o cessar-fogo por 30 dias após a meia-noite continua em cima da mesa. Vamos agir de acordo com a situação real no terreno", notou Zelensky.

Cessar-fogo de 30 dias? "Não houve indicações", diz porta-voz do Kremlin

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse, no domingo, que o presidente russo, Vladimir Putin, não deu "outras indicações" quanto ao cessar-fogo de 30 horas na guerra na Ucrânia - que expirava à meia-noite de hoje (22h00 em Lisboa).

Zelensky diz que palavras da Rússia (sobre cessar-fogo) "continuaram a ser palavras vazias"

Em mais um ponto de situação, na tarde de domingo, o presidente da Ucrânia revelou que as forças de Kyiv registaram, até as 16h00 (14h00, em Lisboa), "46 ataques russos em várias direções e 901 bombardeamentos, 448 dos quais de armamento pesado", além da utilização de mais de 400 drones FPV. 

A maior atividade de combate aconteceu na direção de Pokrov, no sudeste da Ucrânia, disse Zelensky, insistindo na acusação a Moscovo de não respeitar a sua própria trégua da Páscoa, anunciada no sábado pelo homólogo russo, Vladimir Putin.

"As palavras da Rússia sobre um cessar-fogo para a região [russa] de Kursk, Siversk e outras áreas em Donetsk [leste] continuaram a ser palavras vazias", acrescentou, confirmando os dados de atividade militar entretanto divulgados pelo Exército.

Já pelas 20h00 (18h00, em Lisboa) de domingo, o chefe de Estado ucraniano voltou a propor à Rússia "a cessação de todos os ataques de drones e mísseis de longo alcance contra infraestruturas civis por um período de pelo menos 30 dias, com possibilidade de prorrogação".

Na mensagem, o presidente ucraniano atualizou o balanço de Kyiv a alegadas violações russas da trégua pascal, indicando dois mil casos de uso de artilharia e drones de curto alcance por parte das forças de Moscovo.

No entanto, "não houve hoje qualquer alerta de ataque aéreo", observou.

Nesse sentido, Volodymyr Zelensky acrescentou que, se não aceitar a extensão da pausa nas hostilidades e uma trégua nos ataques aéreos, a Rússia demonstrará mais uma vez que o seu objetivo é "prolongar a guerra".

"Esperemos que a Rússia e a Ucrânia cheguem a um acordo", diz Donald Trump

"Esperemos que a Rússia e a Ucrânia cheguem a um acordo esta semana", escreveu o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na sua rede social Truth, acrescentando que "ambos poderão fazer bons negócios com os Estados Unidos da América em expansão e fazer uma fortuna". 

"As ações falam mais alto do que as palavras"

À meia-noite de domingo (hora em que terminava a trégua pascal), Zelensky fez mais um ponto de situação no seu perfil da rede social X (antigo Twitter), afirmando que os ataques russos, desde sábado, chegaram quase aos 3 mil. 

"O número total de violações por parte do exército russo, durante a sua própria trégua, foi de 2.935. O número mais alto de bombardeamentos e ataques ocorreu na direção de Pokrovsk. A promessa da Rússia de um cessar-fogo também não se aplicou a Kursk. No entanto, por toda a linha da frente, houve 96 ataques russos, 1.882 bombardeamentos, incluindo 812 que envolveram armamento pesado e mais de 950 casos em que foram usados drones FPV pelas forças russas", escreveu Zelensky.

O presidente ucraniano acusou ainda a Rússia de não ter respondido à sua proposta de alargar o cessar-fogo após a Páscoa, nem à sua "proposta de, pelo menos, estender a trégua aos céus, abstendo-se de ataques com mísseis e drones a infraestruturas civis".

"A natureza das ações da Ucrânia permanecerá de forma simétrica: um cessar-fogo será respondido com cessar-fogo e responderemos aos ataques russos com defesa. As ações falam sempre mais alto que as palavras", notou. 

A report by Commander-in-Chief Syrskyi as of 12:00 a.m., following the end of Easter.

The total number of violations by the Russian army of Russia’s own ceasefire promise throughout the day reached 2,935. The highest number of shellings and assaults occurred in the Pokrovsk…

— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) April 20, 2025

Após trégua, Rússia já retomou ataques

A Rússia retomou, esta segunda-feira, os ataques aéreos de longo alcance contra a Ucrânia, após uma breve pausa no domingo devido à trégua declarada pelo Kremlin para a Páscoa, de acordo com fonte militar da Ucrânia.

Na plataforma de mensagens Telegram, a força Aérea ucraniana deu conta do envio de 'drones' kamikaze russos Shahed para várias regiões do centro, sul e leste da Ucrânia.

A agência de notícias pública Ukrinform noticiou explosões nas regiões de Mykolayiv e Kherson (sul) e Cherkasy (centro).

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