Carlos ‘Carlitos’ Páez Rodríguez foi um dos 16 sobreviventes do voo 571 da Força Aérea uruguaia nos Andes. Estava no avião que se despenhou em outubro de 1972, uma tragédia que ficou conhecida como o ‘Milagre dos Andes’ porque os sobreviventes foram resgatados 72 dias depois do acidente.
No avião seguia uma equipa de râguebi e 18 atletas tiveram morte imediata. Sobreviveram 27 mas oito morreram numa avalanche, restando 16. Sem comida nenhuma, foram obrigados a recorrer ao canibalismo para sobreviver, alimentado-se dos seus colegas mortos no acidente.
Carlitos, agora com 63 anos, deu uma entrevista ao diário Clarín de Argentina onde falou do acidente e do que se seguiu, algo que definiu como “a sua cordilheira mais dura”.
Pouco depois do acidente, o escritor sucumbiu ao álcool e às drogas, algo que aliado à sua difícil relação com o pai – o pintor Carlos Páez Vilaró -, levou-o a uma das fases mais difíceis da sua vida.
Sair das drogas foi mais difícil que sobreviver à montanha. Para sair, tens que te conhecer. E aperceberes-te que quem és é muito f****. (…) Aprendi que a dor partilhada é menos dor e a alegria é mais alegria. Isto resume o que fizemos nos Andes. As duas histórias de salvação são claramente de grupo
Carlitos Páez diz que ser um sobrevivente é “ter paixão e atitude sempre, para seguir em frente” e que o importante é saber que “mesmo que te enganes, se vais com tudo, chegas na mesma”.
O sobrevivente recordou que passou fome e frio como nunca, enfrentando temperaturas de 25 graus negativos. “Aí dás-te conta do valor das pequenas coisas. Nos Andes, sonhava com uma laranja. Éramos capazes de morrer por um batido de fruta. É o escorbuto. Tínhamos necessidade de comer alguma coisa ácida. Tínhamos a gengivas a sangrar”, recordou.
Sobre a fé, o sobrevivente sublinhou que, nos Andes, Deus foi “necessário”. “Deus torna-se tangível quando estás despojado de tudo. Quando não há coisas materiais que prostituem a tua relação com ele, como o dinheiro, o telefone… A espiritualidade aparece quando não tens nada”.
Sobre se é uma pessoa feliz, Carlitos foi perentório a explicar que “a felicidade é uma procura” e “é intermitente”.