Uma portuguesa a residir em Macau, região administrativa especial chinesa onde entraram este ano já milhares de visitantes, a reboque não só do Ano Novo Lunar Chinês como do facto de ser a capital mundial do jogo, não alinha com o alarmismo que tem gravitado em torno do surto do novo coronavírus.
“Nunca senti pânico e nunca pensei em sair de Macau”, disse ao Notícias ao Minuto a professora de Geografia, que optou por não se identificar. “Até ao momento, tudo a o que assisti traduz-se numa cidade a encarar de frente uma situação delicada, com uma postura cívica exemplar, em que todos procuram fazer a sua parte para que a saúde pública seja preservada”, acrescentou.
A emigrante refere, ainda, que sente serenidade nas pessoas. “Estive esta terça-feira nos correios para levantar uma encomenda enviada por uma amiga portuguesa e todos esperaram calmamente a sua vez, sem nenhuma agitação”, disse, sublinhando que “os CTT locais estão a funcionar a meio-gás porque os funcionários trabalham por turnos e o horário de funcionamento é mais curto”.
Na opinião da docente, as autoridades macaenses reagiram de forma adequada ao surto viral, cujo primeiro caso se registou no território a 22 de janeiro. “A saúde pública tem sido adequadamente acautelada (e isso é o mais importante) sem esquecer um conjunto de medidas de natureza fiscal, financeira e económica de apoio às empresas (sobretudo as de menor dimensão e com menor capacidade de aguentar o impacto económico associado a todo este processo)”.
"Foi solicitada a colaboração da população e esta aderiu"
Na semana passada, sublinhe-se, um terço das mesas dos casinos de Macau reabriram, mas continua a existir um impacto significativo na ocupação hoteleira na capital mundial do jogo. Ainda assim, as proibições implementadas - no âmbito do jogo e encerramento de escolas - manter-se-ão, apesar de não se verificarem novos casos no território há 21 dias consecutivos. O governo acredita que a região passa “um momento crucial”, optando por agir com cautela, levantando apenas a algumas restrições de forma faseada.
“As autoridades solicitaram e continuam a solicitar aos habitantes de Macau que fiquem em casa e restrinjam, tanto quanto possível, os seus contactos/convívios sociais. Não houve uma lei imposta, foi solicitada a colaboração da população e esta aderiu, por (julgo eu) entender que é a maneira mais eficaz de promover a saúde pública”, disse.
Em confinamento doméstico desde o início do mês de fevereiro, a portuguesa trabalha a partir de casa, uma vez que as escolas estão encerradas desde a mesma altura, “logo após a pausa lectiva relativa ao Ano Novo Lunar Chinês (que teve lugar a 25 de janeiro)”. Embora passe a maior parte do tempo em casa, uma medida implementada como forma de prevenção do contágio, a reclusão não é total.
“Normalmente, saio quando preciso de fazer alguma compra (como pão, fruta e legumes frescos)”, relatou, lembrando que a realidade macaense facilita esta gestão: “É usual que muitos supermercados façam a entrega em casa das compras de mercearia, numa compra superior a 500 patacas [cerca de 50 euros]. Dessa forma, é comum fazer-se esse avio uma vez por mês e, depois, vai-se comprando o pão, a fruta e os legumes numa base diária”.
Uma outra medida implementada pelo governo de Macau foi a venda racionada de máscaras de proteção. “Foi uma excelente escolha pois tranquilizou as pessoas (porque todos temos acesso às ditas) e porque evitou que surgisse algum tipo de especulação na sua venda”. Esta venda faz-se em farmácias selecionadas e mediante apresentação de documento de identificação.
O governo de Macau ainda não tem data prevista para a abertura das escolas, encerradas desde o início do mês. O número de infetados desceu para três na terça-feira após nova alta hospitalar, não se verificando novos casos no território há 21 dias consecutivos. Dos 10 casos registados em Macau, este é o sétimo paciente a receber alta, continuando internadas outras três pessoas.