Um em cada cinco estudantes não tem computador em casa e por isso "dificilmente se conseguirá pedir a todos os alunos trabalhos que impliquem a necessidade de um computador", revela um estudo realizado esta semana por Arlindo Ferreira, especialista em Estatísticas da Educação, que foi publicado na terça-feira no blog do Arlindo.
Esta é esta realidade que não escapa a quem trabalha diariamente nas escolas. Os dois presidente das associações de diretores escolares -- Filinto Lima (ANDAEP) e Manuel Pereira (ANDE) - alertaram desde o início para o impacto das desigualdades sociais nas aulas à distância.
Também o representante dos pais e encarregados de educação salientou as diferenças entre famílias. "Há sempre desigualdades entre os alunos: uns têm chalés e outros têm casebres", lamentou Jorge Ascenção, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), em declarações à Lusa.
Sem computadores, há quem esteja a acompanhar as aulas pelos telemóveis ou 'tablets'. Mas para isso é preciso Internet e nem todos a têm no lar.
No ano passado, 80,9% dos agregados familiares tinham acesso a internet em casa. Nas famílias com filhos até aos 15 anos a percentagem subia para 94,5%. Ou seja, mais de 5% dos estudantes com menos de 15 anos viviam em casas sem Internet, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE).
O problema também atinge os alunos do ensino superior. O presidente do Sindicato Nacional de Ensino Superior (SNESup), Gonçalo Leite Velho, lembrou que "há muitos alunos que têm dificuldades de acesso à Internet".
Os dados do INE indicam que entre os estudantes com mais de 16 anos é raro encontrar quem não tenha Internet: são 0,4%. "Basta haver um aluno para ser razão para nos preocuparmos", defendeu recentemente em declarações à Lusa o presidente da ANDAEP, Filinto Lima.
Gonçalo Leite Velho lembrou que também há problemas nas famílias onde há equipamentos. Neste momento estão todos em casa, alguns em teletrabalho, e pode tornar-se difícil gerir quem tem prioridade no seu uso: os filhos que estão em aulas ou os pais que estão a trabalhar?
A Lusa contactou cerca de duas dezenas de famílias com filhos do pré-escolar ao ensino superior e a maioria disse ter equipamentos para todos.
Entre os pais que se aperceberam que teriam de partilhar computadores, começam a inventar-se soluções, como definir horários de uso.
"Temos dois computadores em casa, sendo que um deles é o meu que preciso para trabalhar. Se tiverem de fazer buscas será cada uma no seu horário", contou à Lusa a mãe de duas adolescentes de escolas de Lisboa.
Trabalhar em casa com a família pode ser complicado para todos: alunos e pais. "O ambiente é muito diferente de uma escola. Há mais confusão", alertou Gonçalo Leite Velho.
As aulas à distância exigem um conhecimento e uma técnica por parte dos professores que é muito diferente das aulas presenciais.
"Já quando estão na escola é, por vezes, difícil manterem-se concentrados, imaginemos agora em casa", disse Gonçalo Leite Velho.
O inquérito realizado pelo professor Arlindo Ferreira mostra que 11,6% dos pais não tem disponibilidade para acompanhar o filho pelo menos uma vez por dia nos estudos.
Do lado dos adultos, trabalhar de casa também "é muito mais "difícil porque é preciso conjugar a atenção dada ao trabalho e aos filhos, lembrou o presidente do SNESup.
O docente do ensino superior lembrou que, neste momento, há muitos professores em casa, com filhos pequenos, a tentar dar aulas a outras crianças.
Apesar dos problemas já detetados, todos são unânimes em considerar que o ensino à distância é, neste momento, a melhor solução.
O coronavírus responsável pela pandemia da Covid-19 infetou mais de 200 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 8.200 morreram.
Das pessoas infetadas, mais de 82.500 recuperaram da doença.
O novo cornavírus já matou duas pessoas em Portugal e infetou 642, segundo os dados mais recentes da DGS.
Há 89 doentes internados e 553 a recuperar em casa.
Segundo a DGS, em 4.074 casos o teste deu negativo e há 351 casos a aguardar resultado laboratorial.
O boletim epidemiológico diário indica ainda que desde o dia 01 de janeiro foram registados 5.067 casos suspeitos.
Estão em vigilância pelas autoridades de saúde 6.656 (menos 196) contactos e o número de cadeias de transmissão ativas subiu para 24 (eram 19).