Com a suspensão das aulas de modelação e confeção na Lourinhã, no distrito de Lisboa, Carlos Valeriano, com formação em design e confeção de vestuário, e os respetivos formandos puseram mãos à obra, para colmatar "a falta deste material nos lares, hospitais e centros de saúde".
Primeiro começou por pesquisar o tipo de tecidos que podia usar na confeção de máscaras de proteção individual e validar o modelo junto das autoridades de saúde.
"Encontrei o TNT (Tecido Não Tecido), mas só aquele que é impermeável. O teste é muito simples e basta pegar no tecido e metê-lo debaixo de uma torneira de água e ver realmente se é impermeável ou não, para que as gotículas, quando se tosse ou espirra, não passem através da máscara", explicou à agência Lusa este profissional, que optou por tecido com uma grossura de 50 gramas e aplicar uma camada dupla.
O modelo de máscara é resistente a lavagens a 90 graus, indispensáveis para esterilizar as máscaras depois de confecionadas.
Desde sábado, o grupo começou a produzir, numa onda de solidariedade que abrange hoje mais de duas centenas de costureiras só na região Oeste e alastra a todo o país.
A título de exemplo, "desde sábado já fizeram cerca de 1.500 máscaras só na Lourinhã e mais 500 em Torres Vedras", onde se juntou o ateliê de costura solidária My Moio, que se dedica a confecionar vestuário para crianças carenciadas em todo o mundo.
Os pedidos têm chegado de todo o país e só na Lourinhã a Proteção Civil Municipal solicitou 3.000 a 5.000 máscaras até sexta-feira para responder às necessidades das instituições locais.
"Estou cansado, porque foi uma noite de trabalho, mas acho que vamos conseguir, porque há muito empenho das voluntarias que estão nas suas casas e estão a entregar-se totalmente a este projeto", disse Carlos Valeriano à agência Lusa, que já teve ofertas de dinheiro, mas recusou em prol do voluntariado.
A Associação Oceano Sem Plásticos associou-se à onda solidária e, com mil euros, custeou 5.000 máscaras e vai entregar kits de 50 unidades a uma centena de instituições de solidariedade social do país.
Também em Torres Vedras, a Escola de Comércio e Serviços do Oeste (ESCO) está encerrada, mas os professores de informática levaram as impressoras 3D para casa e, enquanto dão aulas à distância, estão a fabricar viseiras, um modelo validado pelo hospital local.
A iniciativa arrancou no sábado e, ao ser divulgada nas redes sociais, tem vindo a juntar particulares e empresas com aqueles equipamentos informáticos, atingindo-se uma capacidade de produção diária de "50 a 60 viseiras", disse à Lusa Álvaro Brito, professor da ESCO.
"Na quarta-feira, entregámos 450 na zona de Lisboa e mais 20 no hospital de Torres Vedras, hoje já temos mais 50", acrescenta.
Contactos telefónicos e por via eletrónica têm chegado de todo o país, tendo um dos pedidos sido feito pelo Hospital Dona Estefânia, em Lisboa.
Ambos os projetos lançam apelos de ajuda não só a empresas do ramo para atingirem produções em série destes equipamentos de proteção individual, mas também de todos quantos possam doar e financiar a matéria-prima.
No Centro Hospitalar do Oeste, há "stock de máscaras para uma semana, quando em períodos habituais havia para um mês", obrigando os respetivos hospitais de Torres Vedras, Caldas da Rainha e Peniche a fazerem uma "gestão o mais criteriosa possível da utilização dos equipamentos individuais", exemplificou a administradora Elsa Baião.
A instituição tem recebido ofertas de diverso tipo, mas as máscaras têm permitido distribuí-las "a todos os profissionais, sejam os da linha da frente ou outros".
Nos hospitais da região, cerca de 10 profissionais estão em quarentena por suspeita de infeção e a aguardar resultados das análises ao novo coronavirus, mas nenhum acusou positivo.