Portugueses em França "não podem levar a mal" não ir ao país na Páscoa

As férias da Páscoa levam habitualmente os emigrantes a Portugal, mas a pandemia de covid-19 fez com que muitos portugueses em França cancelassem viagens, compreendendo o pedido das autoridades nacionais.

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Lusa
06/04/2020 09:11 ‧ 06/04/2020 por Lusa

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Covid-19

"A Páscoa é uma altura como o Natal. Somos muito religiosos e, ao mesmo, aproveitamos para ir ver a família e é um período onde a nossa agência vende muitos bilhetes para os portugueses que vivem em França", afirmou Rui Lafayette, responsável pela agência de Paris da MZ Voyages, cadeia de agências de viagens especializada em deslocações para Portugal, em declarações à Agência Lusa.

Segundo este responsável, têm sido os próprios clientes a ligar e a pedir para cancelar as viagens que tinham previstas, mostrando que o apelo de não partir para Portugal feito pelas autoridades portuguesas aos emigrantes foi compreendido por todos.

"Estamos a viver tempos estranhos e é uma novidade para todos os Estados. Nós, como portugueses residentes no estrangeiro, percebemos que este não é o melhor momento para estar com os familiares. Havendo um pouco de bom senso, as pessoas não podem levar a mal o facto de o Estado português apelar a que não regressem ao seu país", indicou Rui Barata, conselheiro das Comunidades Portuguesas em Estrasburgo.

Mas há exceções. Rui Barata relata casos de portugueses que têm familiares isolados em Portugal e que precisam de assistência.

António Capela, também conselheiro das Comunidades Portuguesas instalado na região de Toulouse, lembra o caso dos portugueses que podem vir a perder o trabalho devido à pandemia em França e não têm outra solução senão regressar a Portugal.

"Dizer aos portugueses para não irem para Portugal é quase impensável. Claro que isto [covid-19] foi uma surpresa geral, mas há muitos portugueses aqui que trabalham para grandes firmas e que com a pandemia vão perder o seu trabalho e muitos podem ter de regressar a Portugal", relatou o conselheiro.

Rui Barata aconselha que nos casos excecionais, os portugueses em França contactem os consulados que apesar de estarem fechado ao atendimento geral, estão disponíveis para dar assistência e esclarecimentos em caso de urgência.

"No início da gestão desta crise, penso que o ministro dos Negócios Estrangeiros não esteve muito bem quando afirmou que os consulados não são agências de viagens. Foi uma reação a quente, mas depois tivemos a sensação que a máquina consular e as embaixadas tiveram uma melhor percepção e conseguem dar resposta positiva e resolver os casos", indicou o conselheiro que reside na região de Estrasburgo.

António Capela tinha previsto ir a Portugal nas férias da Páscoa, mas cancelou a viagem.

"Era para ir a Portugal e não fui. Peço ao pessoal para não ir e lembro que é indispensável para a segurança de Portugal nesta altura", disse.

Apesar dos conselhos dados pelas autoridades francesas e portuguesas, este emigrante, radicado em França há mais de 40 anos, diz conhecer mais de uma dezena de casos de pessoas que decidiram passar a quarentena em Portugal.

Com muitos voos cancelados, a maior parte destas pessoas seguiu na sua própria viatura, tendo sido controlados pela polícia na fronteira entre Espanha e Portugal e estando agora em quarentena.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,2 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 68 mil.

Dos casos de infeção, mais de 283 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

O continente europeu, com cerca de mais de 664 mil infetados e mais de 49 mil mortos, é aquele onde se regista o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, 15.887 óbitos em 128.948 casos confirmados até domingo.

Em Portugal, segundo o balanço feito no domingo pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 295 mortes, mais 29 do que na véspera (+11%), e 11.278 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 754 em relação a sexta-feira (+7,2%).

Dos infetados, 1.084 estão internados, 267 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 75 doentes que já recuperaram.

Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até ao final do dia 17 de abril, depois do prolongamento aprovado na quinta-feira na Assembleia da República.

Além disso, o Governo declarou no dia 17 de março o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.

 

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