Depois de no início desta semana, mais de uma centena de profissionais do Hospital da Cruz Vermelha ter acusado o presidente da instituição, Francisco George, de "estar a pôr em risco a sobrevivência clínica e económica do hospital", esta quinta-feira, em comunicado conjunto enviado às redações, o Ministério da Saúde e o gabinete do ministro da Defesa informaram que o Hospital da Cruz Vermelha deixa de integrar a rede COVID.
Não fazendo qualquer referência ao que se passa na instituição e destacando, aliás, o "espírito colaborativo" com que "foi recebida a informação de que o Hospital da Cruz Vermelha poderia passar a funcionar ao serviço de Estado, no combate ao surto do novo coronavírus integrado na rede COVID", a tutela justifica esta decisão com o resultado de "uma avaliação regular do nível de preparação e resposta".
"A dinâmica da situação epidemiológica e a incerteza científica quanto às características deste vírus exige, de modo a flexibilizar uma resposta que garanta o envolvimento coordenado de todos os intervenientes do sistema, uma avaliação regular do nível de preparação e resposta à pandemia, em conformidade com o definido no 'Plano Nacional de Preparação à Resposta à Doença por novo coronavírus (COVID-19)" e, acrescenta o documento, foi "no âmbito desta avaliação permanente, que consideramos não se justificar atualmente a integração do Hospital da Cruz Vermelha na rede COVID".
Os ministérios deixam, porém, uma palavra de reconhecimento do papel que a "Cruz Vermelha Portuguesa tem demonstrado" enquanto "parceiro absolutamente imprescindível (...) expresso num vasto número de iniciativas e ações", nomeadamente a realização de testes laboratoriais de triagem smart junto de lares, o transporte de doentes suspeitos, mas também "na cedência de equipamentos" e no apoio aos serviços de Proteção Civil, "até à instalação da unidade modular no Hospital de Santa Maria para contenção de doentes suspeitos".
O Governo aproveita para salientar que "numa altura em que enfrentamos o surto do novo coronavírus, a colaboração intersectorial tem-se revelado fundamental na preparação e resposta a uma pandemia que exige, de todos nós, um esforço coordenado dos diferentes setores da sociedade e dos parceiros do sistema de saúde pública".
Trabalhadores contra o presidente Francisco George
Na última terça-feira (dia 7), mais de uma centena de profissionais do Hospital da Cruz Vermelha acusou o presidente da instituição, Francisco George, de "estar a pôr em risco a sobrevivência clínica e económica do hospital".
O alerta, avançou a agência Lusa, foi feito através de uma "carta denúncia" - assinada por médicos, enfermeiros, técnicos, administrativos e auxiliares de ação médica e colaboradores -, endereçada ao Presidente da República, ao presidente da Assembleia da República, ao primeiro-ministro e aos ministros das Finanças, Defesa e Saúde.
Na missiva, os profissionais manifestavam "enorme preocupação" com a forma como Francisco George, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) e presidente do Conselho de Administração não-executivo do Hospital da Cruz Vermelha (HCVP) estava "a pôr em risco a sobrevivência clínica e económica" do hospital.
Em reação, Francisco George disse estranhar a situação: "Estou há pouco tempo na CVP, estou na administração de manhã à noite, vejo o diretor clínico todos os dias, e até hoje nada me disse".
[Notícia atualizada às 20h39]