"Nós vamos começar com cerca de 12 ou 16 doentes, nos primeiros dois ou três dias, e depois iremos aumentando a receção de doentes. Provavelmente iremos dar resposta, espero, a cerca de 20% dos que as unidades têm internados", afirmou António Araújo em declarações aos jornalistas no final da visita ao hospital de campanha instalado no pavilhão Rosa Mota, no Porto.
De acordo com aquele responsável, a unidade destina-se a receber doentes infetados com covid-19, assintomáticos ou com sintomas ligeiros, mas sem possibilidade de isolamento no domicílio, podendo ainda ser usada por doentes infetados e com necessidade de cuidados médicos devido a outras patologias, e doentes em fase de convalescença.
No total, o "Hospital Porto." dispõe de 320 camas para doentes covid-19, distribuídas por dois pisos, e está dividido em duas áreas, "a chamada área vermelha, onde andarão os doentes infetados, e a área verde, aquela onde os profissionais de saúde poderão andar de uma forma um pouco mais descontraída.
De acordo com António Araújo, estas áreas são fundamentais para a segurança de todos, pelo que foram definidos circuitos para entrada de alimentos, produtos farmacêuticos, ou pessoal médico, entre outros, por forma a minimizar o risco de infeção.
Há um coordenador geral, função que cabe a António Araújo, um coordenador médico ou de área de enfermagem e um outro da equipa de auxiliares. Todos os profissionais a trabalhar naquele local são voluntários.
"Aqui podemos ter um número muito razoável de doentes", assegurou, adiantando que, "se tudo correr bem", aquela unidade deve encerrar portas a 31 de julho.
Para o presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, este hospital de campanha vai permitir aliviar alguma da pressão sentida pelos hospitais perante o aumento do número de infetados.
"Se eu conseguir retirar uma percentagem razoável de doentes dos hospitais, isso permitirá aos hospitais, que são unidade de saúde altamente diferenciadas (..), poderem prestar apoio àqueles doentes que realmente precisam desses cuidados", concluiu.
Esta mensagem foi também repetida pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, que em declarações aos jornalistas, salientou que esta é uma resposta fundamental.
"Hoje já temos cá uma série de voluntários - médicos e enfermeiros - que estão preparados para a partir de amanhã [terça-feira] começarmos a oferecer aqui um serviço que é, a nosso ver, absolutamente fundamental e complementar àquilo que os hospitais estão a fazer. Isto é, de facto, um hospital de retaguarda que numa situação destas nos parece muito importante", declarou.
O autarca recordou que inicialmente estava pensado destinar o Pavilhão Rosa Mota para acolher os idosos infetados que fossem detetados no rastreio que está a ser levado a cabo.
Contudo, foi, entretanto, disponibilizado o Seminário de Vilar para esse fim.
"Não temos mãos a medir, o esforço de todos é pouco. Oxalá ele não venha a encher, oxalá ele não esteja aberto até 31 de julho. Não nos podemos fiar na sorte, temos de estar preparados para o pior, é isso que a câmara tem feito", disse.
Rui Moreira revelou ainda que tem vindo a dialogar com os hospitais no sentido de canalizar para este espaço alguns dos equipamentos que a autarquia tem vindo a adquirir ou que têm sido oferecidos.
Hoje mesmo, vão chegar 30 ventiladores doados pela Fundação Jack Ma, presidente executivo do Grupo Alibaba, que vão ser distribuídos pelos hospitais de São João (15) e de Santo António (15), informou fonte da autarquia.
Questionados pelos jornalistas sobre a possibilidade de aquele hospital de campanha vir a acolher idosos cujo regresso aos lares esteja a ser recusada, Rui Moreira e António Araújo referiram que para aquela unidade "virão doentes transferidos dos hospitais".
Para os lares, acrescentou o presidente da autarquia, há uma resposta diferenciada, que não passa por aqui.
Numa nota de imprensa divulgada hoje, a Missão Continente anunciou que vai doar bens alimentares, higiene, limpeza e ainda, consolas e videojogos àquela unidade.
A Flama foi outra das empresas que se associou à Câmara do Porto: Em comunicado, a marca portuguesa de eletrodomésticos revelou estar a apoiar a iniciativa de realocação de idosos não infetados em lares e de pessoas em situação de sem abrigo, com o donativo de grandes e pequenos eletrodomésticos de limpeza e de cozinha destinados às novas instalações.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 114 mil mortos e infetou mais de 1,8 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registam-se 535 mortos, mais 31 do que no domingo (+6,2%), e 16.934 casos de infeção confirmados, o que representa um aumento de 349 (+2,1%).