A imunologista Maria de Sousa, que morreu esta terça-feira, dia 14 de abril, aos 80 anos, vítima do novo coronavírus, escreveu um poema dias antes de perecer, quando já sabia que estava infetada e que este poderia ser o destino final.
O poema foi redigido no dia 3 de abril e em inglês, tal como Maria de Sousa se expressava quando escrevia poesia.
Já está quarta-feira, o mesmo foi reproduzido no Jornal da Noite na SIC, e amplamente partilhado no twitter.
O poema, intitulado ‘Carta de Amor Numa Pandemia Vírica’, fala não só do momento que o mundo vive com a Covid-19, como das memórias felizes da imunologista e do aproximar da morte.
Na imagem abaixo pode ler o poema original:
In our living is the hope of your lasting.Forever yours,Your mentees@alumnigabba #mariadesousa #GABBA@i3S_UPorto pic.twitter.com/9xVVODcOWa
— Francisca Soares-da-Silva (@FranciscaSdS) April 14, 2020
Aqui fica a tradução em português:
“Carta de Amor Numa Pandemia Vírica
Gaitas de foles tocadas na Escócia
Tenores cantam desde varandas italianas
Os mortos não os escutarão
E os vivos querem carpir os seus mortos em silêncio
Quem desejam confortar?
As crianças?
Mas as crianças também estão a morrer
Nas minhas circunstâncias
Poderei morrer
Perguntando-me se vos irei ver de novo
Mas antes de morrer
Quero que saibam
Quanto gostava de vocês
Quanto me preocupava convosco
Quanto me recordava dos momentos partilhados e estimados
Momentos então
Eternidade agora
Poesia
Riso
Mar
Por do Sol
A pena que a gaivota levou para a nossa mesa
Pequeno-almoço
Botões de punho dourados
A magnólia
O hospital
Meias, pijamas e outras coisas acauteladas
Tudo momentos então
Eternidades agora
Porque poderei morrer e vós tereis de viver
Na vossa sobrevivência, a esperança da minha duração”
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