Após o decorrer de uma sessão solene do 25 de Abril atípica, o discurso do Presidente da República foi, como manda a tradição, a última intervenção do Parlamento antes de ser cantado pela segunda vez o Hino Nacional, encerrando assim a homenagem no hemiciclo.
Com menos de 100 convidados a assistirem, Marcelo Rebelo de Sousa começou por destacar que "neste tempo de sacrifício para todos os portugueses", a Assembleia da República nunca interrompeu "os trabalhos nos três estados de emergência" e que, por isso, decidiu respeitar "a decisão" dos deputados em celebrar este dia, "com as condições que foram criadas para tal".
"Num momento da vida do país que exige convergência perante desafios tão graves (...) Esta hora impõe-nos unidade. Unidade que não é unicidade nem unanimismo. Mas unidade entre os portugueses e os responsáveis políticos", declarou o chefe do Estado acrescentando que esta tem sido uma "convergência decisiva para Portugal".
"Evocar o 25 de Abril é falar deste tempo não é ignora-lo"
Afirmando ser "obviamente sensível às dúvidas de alguns portugueses acerca da sessão" que decorre, o Presidente da República quis responder às recentes críticas. "É em tempos excecionais como este (...) que se impõe evocar mais do que um costume um ritual", apontou sublinhando que, tal como a presente sessão do 25 de Abril, as comemorações do 10 de junho, 1 de dezembro e de 5 de outubro são "fundamentais" e têm de ser "evocadas".
"Em tempos de execionais de dor, de sofrimento, de luto, de separação e de confinamento é que mais importa evocar a Pátria, a República, a Liberdade e a Democracia", sustentou.
Mais, para Marcelo Rebelo de Sousa, esta homenagem não é "uma festa de políticos alheia ao clima de privação vivido na sociedade portuguesa". "Evocar o 25 de Abril é falar deste tempo não é ignora-lo, é falar dos seus desafios presentes e futuros", vincou denotando ainda que esta comemoração deve servir como uma forma de "ir às raízes buscar forças adicionais para mobilizar e enfrentar cansaços, desânimos e frustrações".
"Esta sessão é um bom e não um mau exemplo", denotou o chefe de Estado referindo que "o que seria verdadeiramente incompreensível e civicamente vergonhoso era a Assembleia da República demitir-se de exercer todos os seus poderes".
Recebendo uma palmas do parlamento por estas últimas declarações, o Presidente da República prosseguiu recordando as conquistas alcançadas na 'Revolução dos Cravos' agradecendo o contributo dado há 46 anos de várias personalidades e instituições presentes no hemiciclo.
Voltando aos dias de hoje, Marcelo defendeu também que "evocar Abril é, nesta circunstancia, combater a crise na Saúde que ainda atravessamos e vamos atravessar e a crise económica e social que viveremos durante anos". Para o Presidente, "evocar Abril" é também "chorar os mortos", "é proteger os que há proteger, incluindo os que vivem em lares ou instituições", "é acorrer aos desempregados aos que estão em risco de o ser, às famílias aflitas, às empresas estranguladas, (...) é exigir uma Europa mais lúcida, empenhada e rápida a agir", destacou.
Apelando a que não se exclua "ainda mais os que são excluídos", Marcelo também quis deixar um agradecimento especial aos "que ajudam a manter o básico na nossa sociedade: Civis, forças armadas e forças de segurança" e "aos que salvam e salvarão vidas", deixando a mensagem de que estes profissionais "devem ser acarinhados agora e sempre".
O presidente da República salientou ainda que, na sua opinião, "deixar de evocar o 25 de Abril num tempo que está a colocar à prova o país, seria um absurdo incompressível, seria um mau sinal, um péssimo sinal, de falta de unidade no essencial".
O chefe do Estado ainda reforçou que o país tem "de continuar a resistir ao desgaste", que se tem de "manter máxima convergência possível" e que não se pode "discriminar ideias ou pessoas como se o 25 de Abril fosse só de uma parte de Portugal".
Concluindo que, por isso, nunca hesitou "nem por um segundo" em estar presente nesta sessão, Marcelo apelou a todos que agora se olhasse para o "essencial": "Vencer as crises que temos para vencer".
Este foi o último discurso do 25 de Abril do atual mandato de cinco anos de Marcelo, que termina em março de 2021, e foi apluadido de pé, no final, pelos deputados do PS, PSD e CDS, merecendo também aplausos de alguns deputados, sentados, do BE e PCP.
Recorde-se que, nas últimas semanas, cresceu a polémica à volta do modelo de comemorações do 25 de Abril, quer dentro do parlamento - CDS e Chega foram contra, PAN e Iniciativa Liberal defenderam outros formatos - e fora dele, com duas petições 'online', uma pelo cancelamento e outra a favor da sessão solene, a juntarem centenas de milhares de assinaturas.
Nesta sessão faltaram convidados como Cavaco Silva, que apenas anunciou, sem explicações, que não iria estar presente, Jorge Sampaio que invocou razões de saúde para justificar a ausência. Também não compareceu no plenário o líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, por discordar do modelo de comemorações e Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, que estará representado por outra pessoa.