Na conferência diária de atualização de incidência da Covid-19 em Portugal, deste domingo, Marta Temido começou por explicar que "estamos num momento em que todos nos interrogamos sobre as condições para o alívio das medidas de contenção e é importante destacar que a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Comissão Europeia têm sublinhado a importância dos critérios epidemiológicos que mostrem que a infeção se encontra controlada".
O número médio de contágios causados por cada pessoa infetada "é um dos indicadores mais comummente considerados", referiu ainda a ministra. "No nosso caso, o cálculo do R0 [...] situa-o, agora, nos 2.08". "Continuamos a estimar que o máximo da incidência da infeção tenha ocorrido entre os dias 23 e 25 de março", considerou.
Outro dos indicadores levados em conta é "o número médio de casos secundários resultante de um caso infetado, medido em função do tempo, o designado RT". Este valor, "que mede a transmissão ao longo do tempo, posiciona-nos, agora, com os números que de dispomos - entre os dias 16 e 20 de abril - no 1.04, variando entre 0.99 na região Norte e 1.2 na Região de Lisboa e Vale do Tejo". Estes números mostram, frisa Marta Temido, que "o máximo da incidência da infeção já terá ocorrido" e que o número médio de casos secundários está pouco acima de 1.
A ministra da Saúde reforçou, em seguida, quatro mensagens: "A doença não está, obviamente, ultrapassada", que "se mantém a necessidade do cumprimento escrupuloso e disciplinado de todas as medidas de saúde pública que aprendemos", "as medidas de combate à pandemia são permanentemente reavaliadas e modificadas em avaliação das circunstâncias" e "não haverá um regresso à normalidade tal como a conhecíamos e temos que aprender a viver com a doença até que uma vacina ou um tratamento eficaz sejam identificados".
'Coabitação' é o principal contexto em que pessoas se infetam
Para que "as medidas que adotamos sejam aquelas que respondem adequada e proporcionalmente à contenção da infeção, temos de saber mais informação sobre as pessoas que adoecem e as condições em que infetam", sublinhou Marta Temido, acrescentando que "tem sido feito um esforço significativo no sentido de perceber melhor esta evolução".
"A amostra que conseguimos reunir envolve 2.958 casos confirmados, do total de 4.370 casos confirmados entre os dias 18 e 24 de abril". Destes confirmados, "44% dos registos tinham informação sobre o registo de transmissão".
Os valores mostravam que "o local 'coabitação' continuava a ser o principal contexto de transmissão, representando cerca de 30% dos casos". "Isto mostra-nos a particular necessidade de ter em atenção que quem está em domicílio continua a ter necessidade de cuidados especiais".
Marta Temido revelou que 25% dos casos correspondiam a situações de surto "em instituições coletivas", como lares, hostels e empresa. Já 9% dos casos confirmados referiam "casos de transmissão social", amigos ou não coabitantes.
Vacina? Porquê?
"Porque é que a humanidade quer tanto uma vacina? Porque estas fazem uma simulação da doença sem que se tenha a doença. Portanto, evitam a infeção". Por isso, quando há uma ameaça à saúde "todos queremos uma vacina", afirmou Graça Freitas.
Mas, acrescentou a diretora-geral da Saúde, "temos de pensar nas vacinas que já temos" e que são "bastante eficazes, bastante seguras e com bastante qualidade", frisando a importância do Programa Nacional de Vacinação. Os anos de 2018 e 2019 foram "extraordinariamente bons" em relação à vacinação em Portugal, "até em contraciclo com o que se passa noutros países".
Questionada, Graça Freitas destacou que em março houve "13% de quebra" na vacinação, "que está a ser recuperada durante abril".
Medição da temperatura aos trabalhadores
"Temos procurado sempre referir que qualquer medida é particularmente útil no contexto de uma combinação de atuações. Nenhuma medida isolada garante toda a proteção que gostávamos de ter", destacou Marta Temido, acrescentando que "parece muito importante sublinhar que se as pessoas sentirem que têm temperatura, devem abster-se de ir trabalhar".
"Um trabalhador deve ter o cuidado de medir duas vezes ao dia a sua temperatura" e deve alertar a entidade patronal caso registe alguma alteração, afirmou.
"Independentemente deste aspeto", a ministra da Saúde disse que, "em termos legais, há vários aspetos em que nos devemos ater quando trabalhamos este tipo de dados e um deles é o consentimento expresso do trabalhador" e "a questão de este controlo ser realizado por um profissional de saúde ou outra pessoa sujeita ao dever de confidencialidade".
Veja aqui a conferência deste domingo:
[Notícia atualizada às 13h51]