António Sales começou a por revelar na conferência de imprensa diária os dados do boletim epidemiológico desta quarta-feira (973 mortos e 24.505 infetados), referindo de seguida que a taxa de letalidade global se situa agora nos 4% e que a taxa de letalidade acima dos 70 é de 14,1%, e que as pessoas em tratamento domiciliário são 86% dos casos de infeção.
"Portugal está em Estado de Emergência e continuará, depois do levantamento deste estado, a ter de lidar com esta emergência de saúde pública", acentuou o governante, sublinhando que "a pandemia continua e continuará a fazer parte das nossas vidas" e lembrando que "somos todos agentes de saúde pública". "Doravante somos ainda mais chamados a cumprir esta missão que nos compete (...) Está em cada um de nós a missão de salvar vidas", reforçou.
António Sales disse que "continuamos ter uma responsabilidade acrescida em não sobrecarregar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) para que ele continue como até agora a conseguir dar resposta às exigências impostas pela Covid-19. Mas também, paulatinamente, continuando a responder às outras doenças", frisou.
O SNS24, destacou o governante, "continua a ser a porta de entrada por excelência no Serviço Nacional de Saúde" e "serve, não só para doentes com suspeitas de Covid-19, como outros que possam ter dúvidas sobre se devem recorrer aos serviços de saúde". Neste momento, detalhou, a Linha de Saúde 24 atende cerca de 7 mil chamadas por dia e tem um tempo médio de espera para atendimento de menos de meio minuto".
Respondendo às questões dos jornalistas, o Secretário de Estado reafirmou que "obviamente não podemos descurar uma segunda vaga" da pandemia, assegurando que o Governo está a fazer, em matéria de saúde, é "capacitar o SNS através de modelos organizacionais, calendários de atendimento, reprogramação de cirurgias e consultas". Um calendário que, "em altura oportuna" será anunciado pela Ministra da Saúde, adiantou. "Sim, preocupa-nos tudo. Não queremos estar desprevenidos numa segunda vaga", disse.
Violência doméstica
Uma das preocupações do Governo, referiu o secretário de Estado, é a garantia que o Estado continua a proteger e a não deixar os mais vulneráveis sem resposta, recordando que a violência doméstica afecta milhares de pessoas, especialmente mulheres e crianças e "não pode ficar esquecida em tempos de Covid-19".
A este respeito, António Sales realçou trabalho desenvolvido pela Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade que, em parceria com o Ministério da Saúde, "pôs em marcha" um plano de contingência e prevenção e de combate à violência doméstica em contexto de Covid-19. Além das campanha "massiva", as casas abrigo da redes de acolhimento e emergência "têm estado em funcionamento", respeitando as regras de isolamento e distanciamento social".
"Foram ainda contratualizadas mais duas casas abrigo (...) que correspondem a mais cem vagas ", deu conta. Desde 6 a 27 de abril, estas casas já acolheram 50 vítimas. Foi também criada uma nova linha de atendimento, por SMS (pelo número 3060). Trata-se de uma linha gratuita, que não permite a identificação dos contactos do agressor, esclareceu António Sales. A linha "presta informações, apoia e encaminha as vítimas, e em caso de elevado perigo, aciona as forças de segurança para verificação imediata das situações no local". "[A linha] entrou em funcionamento no dia 27 de março e já recebeu 123 pedidos de apoio", anunciou. O Secretário de Estado recordou ainda o outro número para o qual as vítimas de violência doméstica devem ligar - o 800 202 148 - e o email: violencia.covid@sig.gov.pt. No total, as três linhas disponíveis, receberam desde o dia 19 de março, 308 pedidos.
Em Portugal, ao contrário de outros países europeus, não se regista um aumento do número de participações por violência doméstica. Aliás, forças de segurança (PSP e GNR) registaram um decréscimo das participações de 39% face ao mesmo período do ano passado, o que "nos compromete ainda mais na urgência de dar outras respostas", frisou o Secretário de Estado.
Presente hoje na conferência, a Coordenadora do Programa Nacional de Prevenção da Violência no Ciclo de Vida, Daniela Machado, lembrou que a violência doméstica é considerado um problema grave de saúde pública e "acima de tudo uma questão de direitos humanos". A responsável afirmou que a violência doméstica "faz adoecer" tanto física como psicologicamente.
"São situações que provocam trauma e qu devem ser prevenidas", disse, acrescentando: "Sobretudo quando estamos a falar de crianças", "crianças que muitas vezes aprendem esses modelos e que os replicam ao longo do ciclo de vida", acabando por ser difícil interromper. "Nesta fase de pandemia, importa que o SNS, mais do que nunca, reforce aqui a sua atuação".
A coordenadora sublinhou também que "a imprevisibilidade e fragilidade socio-económica das famílias, neste contexto, é de facto um factor que pode vulnerabilizar para situações de violência". De acordo com a responsável, o SNS tem feito um reforço da capacitação dos profissionais, da formação, da atuação, tendo, ao longo do tempo, criado estruturas de atuação.
"Um apelo sério"
Graça Freitas, por seu turno, aproveitou para reforçar um "apelo muito sério" aos pais e cuidadores para não deixarem de vacinar as crianças. "Estamos numa epidemia e se baixarmos a vacinação podemos ter outras epidemias". "Veja se o seu filho tem o boletim de vacinação em dia e leve-o ao centro de saúde e, de preferência, marcando previamente para evitar o ajuntamento de pessoas". "Não deixe de vacinar, é seguro vacinar (...) e é a única forma de proteger contra doenças graves. Vacine-se e vacine os seus", insistiu.
93% dos óbitos ocorreram em hospitais
Por outro lado, e respondendo a questões dos jornalistas, a diretora-geral da DGS disse que "em Portugal não é possível ninguém ser enterrado ou cremado sem o certificado de óbito" e que "esses certificados são passados pelos médicos que sabem a causa da morte". Os certificados de óbito, clarificou, entrou numa plataforma eletrónica e "nós conseguimos o número de mortes ao minuto". "Obviamente, independentemente do local do óbito, esse óbito é registado", assegurou.
"Em anos normais, sem Covid-19, cerca de um terço das pessoas morre fora do hospital. Em relação à morte por Covid-19, em Portugal vamos um bocadinho mais longe, até estamos a considerar morte por Covid-19 mesmo que não seja o evento terminal. Não estamos a deixar escapar ninguém cujo o médico tenha escrito a palavra Covid-19 no certificado de óbito. Obviamente que estão contempladas as pessoas que morrem em ambiente hospitalar e as que morrem no seu domicilio ou em lares", disse, dando conta que "93% das mortes por Covid-19 ocorreram em meio hospitalar, 4% em lares e 3% em domicílio".
Recorde aqui a conferência desta quarta-feira: