O pai e a madrasta de Valentina, a menina de nove anos assassinada em Atouguia da Baleia, no concelho de Peniche vão esta quarta-feira, cerca do meio-dia, conhecer as medidas de coação decretadas pelo tribunal. São ambos os principais suspeitos do crime que tirou a vida à criança. Sandro e Márcia chegaram ao Tribunal de Leiria pelas 9h30 desta manhã.
De acordo com a edição desta quarta-feira do Jornal de Notícias, a pequena Valentina terá sido vítima de agressões ao longo de quatro dias, agressões estas que contribuíram para o quadro que viria a ditar a sua morte. Ainda segundo a mesma publicação, a madrasta terá contribuído para o aumento de tensão entre pai e filha que culminaria no homicídio da criança.
Ontem, na chegada ao Tribunal de Leiria, pelas 10h41, foram vaiados. Nas traseiras do tribunal estavam cerca de 40 pessoas, que não se cansaram de lhes chamar "assassinos", tendo a polícia tentado evitar que os populares se aproximassem dos suspeitos.
De acordo com a TVI24, o interrogatório a Márcia, madrasta de Valentina, terminou por volta das 17h00 e o de Sandro Bernardo, o pai da menina, pouco depois das 18h30.
À saída do tribunal - e ao ser questionado pelos jornalistas sobre o interrogatório a Sandro Bernardo - o advogado do pai da menina, Roberto Rosendo, não quis pronunciar-se, deixando apenas no ar a questão: "Se estivesse no lugar dele estava tranquilo?"
Já a PSIJUS - Associação para a Intervenção Juspsicológica exige que sejam imputadas "responsabilidades" sobre "o que falhou" no caso da menina assassinada em Peniche.
"Algo falhou, uma vez mais, por isso, morreu uma criança. Precisa-se de coragem para investigar e perceber o que falhou, quem falhou, e por que razão falhou. Há que extrair conclusões e imputar responsabilidades", frisa, pedindo uma "reflexão séria, com suporte técnico-científico, e desprovido de dogmas sobre modelos de gestão das responsabilidades parentais".
Recorde-se que os resultados preliminares da autópsia apontam para que Valentina tenha tido uma morte violenta. Embora haja indícios de asfixia, a criança de terá sofrido agressões em vários locais, o que lhe causou diversas lesões, incluindo na cabeça, segundo fonte policial.
A menina não estava sinalizada pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ), informou a entidade, que em 2019 arquivou um processo relativo à criança.
Reações à morte de Valentina
Sandra Cristina, a mãe da menina assassinada pelo pai, no Seixal, em fevereiro de 2019, reagiu à violenta morte da pequena Valentina nas redes sociais. Num longo texto partilhado na sua página de Facebook, a mulher, que também perdeu a mãe às mãos do ex-companheiro, questiona a atuação das autoridades e a justiça e revela que, antes do duplo homicídio (mãe e filha) ocorrer, pediu testes psicológicos ao pai da filha, mas foi "ignorada".
Também uma ex-professora do pai de Valentina reagiu, recordando Sandro Bernardo como uma pessoa educada e respeitadora. Questiona-se, por isso, o que terá acontecido na vida do agora suspeito pela morte da filha. "Não o devias ter feito, sabes disso", afirmou a professora. Perante as circunstâncias, e depois de ter sido detido pela Polícia Judiciária no passado domingo, Helena assinala ainda: "Agora vais preso, és achincalhado por um país inteiro que não te conhece e te julga como se todos fossem imaculados e intocáveis".
Valentina foi dada como desaparecida na última quinta-feira de manhã, depois de uma denúncia feita pelo pai no posto da GNR de Peniche.
As buscas contaram com o envolvimento de "mais de 600 elementos ativos, numa área percorrida de sensivelmente quase quatro mil hectares, palmilhada mais do que uma vez em alguns locais", referiu o comandante da GNR de Caldas da Rainha, Diogo Morgado, numa conferência de imprensa, no domingo.
Depois de cerca de três dias de buscas, a PJ de Leiria deteve, no domingo, o pai e a madrasta da vítima, cujo corpo foi encontrado numa mata na Serra D'el Rei, no concelho de Peniche, distrito de Leiria, coberto por arbustos.