Reabrir escolas é uma "decisão política" num "quadro de pouca prudência"

Mário Nogueira apontou, esta sexta-feira, que a própria comunidade científica está divida sobre se a reabertura das escolas deve decorrer já no início da próxima semana.

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Mafalda Tello Silva
15/05/2020 12:06 ‧ 15/05/2020 por Mafalda Tello Silva

País

Covid-19

O secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, considerou, esta sexta-feira, que a reabertura dos estabelecimentos de ensino na próxima segunda-feira é uma "decisão política" tomada "num quadro de pouca prudência"

Admitindo, que o Governo "tem toda a legitimidade" para avançar com esta medida, o responsável sublinhou que "se as coisas correrem mal, as responsabilidades políticas terão de ser assumidas".

Apesar de destacar que a Fenprof deseja "que tudo corra bem", Mário Nogueira disse também que não poderia deixar de referir que a força sindical acredita que esta decisão é "feita num quadro de pouca prudência".

"Ou seja, entendemos que não estão ainda reunidas as condições de segurança sanitárias para que, com prudência, as escolas, as creches e os jardins de infância possam reabrir", argumentou o secretário-geral durante uma conferência de imprensa realizada, no final desta manhã, no Porto, numa sessão que serviu para divulgar o Manual de Procedimentos, Condições e Exigências que a Fenprof pretende distribuir aos professores e publicar no seu 'site'.

"Opinião da comunidade científica não é consensual"

Para sustentar esta opinião, o sindicalista recordou que a reabertura das escolas prevista para a próxima semana é uma decisão que no seio da comunidade científica "não é consensual"

Mencionando dois documentos recebidos pela Fenprof, o responsável ilustrou esta divisão referindo que um parecer do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas defende que "é desaconselhada a reabertura" neste momento porque o "nível de transmissão" é ainda acentuado e, outro parecer, realizado pela Sociedade de Epidemiologia, "admite que a abertura se possa dar agora".

"Portanto, a própria comunidade científica divide-se, os próprios especialistas da área não dizem convictamente que a abertura se deve dar", insistiu. 

"Todos os profissionais, funcionários e alunos devem fazer [o teste]"

Logo no início da sua intervenção, Mário Nogueira afirmou que "não é garantido um dos compromissos que o Governo e o primeiro-ministro tinham assumido"."O compromisso era que em cada momento que viesse a ter lugar o desconfinamento seria sempre precedido da avaliação do momento anterior. O problema aqui é que o momento anterior não foi avaliado", apontou o secretário-geral da Fenprof, advertindo para o facto de ainda não haver dados sobre o impacto da primeira fase do desconfianemento

"Para além de que este desconfinamento foi reduzido. (...) O verdadeiro impacto só acontecerá depois de dia 18", acrescentou. 

Ainda sobre o Executivo de António Costa, o responsável voltou também a acusar o Ministério da Educação de se estar a "recusar a testar a comunidade escolar", considerando "importantíssimo" que fossem feitos testes ao novo coronavírus a toda a comunidade que vai regressar e não apenas a alguns setores, como é o caso das educadoras de infância e funcionários afetos ao pré-escolar.

"Todos os profissionais, funcionários e alunos devem fazer [o teste]. Não fazer aos alunos é uma decisão incompleta", referiu o secretário-geral, apontando para "cerca de meio milhão de pessoas a regressar às escolas" entre crianças, adolescentes e adultos.

As contas da Fenprof são baseadas nos cerca de 160 mil alunos que regressam no secundário (11.º e 12.º anos), somando-se 200 mil professores e auxiliares deste grau de ensino, bem como "240 a 250 mil" no pré-escolar.

"É fácil estabelecer prioridades por concelhos tendo em conta o quadro epidemiológico", defendeu Mário Nogueira, dando outros exemplos de locais a testar prioritariamente, nomeadamente recorrendo ao exemplo de focos de infeção por covid-19 identificados na zona da Azambuja.

"Não é por acaso que os Açores, Madeira, a Universidade de Aveiro, Lisboa, Beira Interior, entre outras, e algumas Câmaras Municipais anunciaram [testes ao secundário]. O facto de não ter sido feita a testagem até ao regresso, não significa que não seja feita entretanto", disse Mário Nogueira

Fenprof, que no início da semana entregou na Assembleia da República uma petição que já vai em 7.000 assinaturas para reclamar testes de despistagem à doença covid-19 para a comunidade escolar, participou na quinta-feira numa reunião no Infarmed.

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