Meia hora antes do início da missa, pelas 16h30, na porta lateral da igreja de Nossa Senhora do Amparo de Benfica, cerca de uma dezena de fiéis, sobretudo idosos, começaram a formar a fila para entrar. Depois de três meses de confinamento devido à pandemia da covid-19, as pessoas mostraram-se preparadas para respeitar as novas regras, inclusive o uso de máscara e o distanciamento social, com a ajuda de cruzes vermelhas assinaladas no chão.
Assumindo-se como católica praticante, em que "desde pequenina" foi habituada a ir à igreja, Maria Araújo, de 80 anos, decidiu ir hoje mais cedo para "assistir à primeira missa" depois do confinamento.
Nestes três meses de ausência física na igreja, Maria Araújo assistiu sempre à missa 'online', através do Facebook da Paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Benfica. Apesar de nunca ter faltado a ligação à igreja, "já fazia falta" voltar a entrar no espaço físico, porque "é diferente".
Neste "regresso a casa" dos fiéis, com o retomar das celebrações eucarísticas, a paróquia de Benfica quis "acima de tudo garantir toda a segurança", contando com o apoio de voluntários para a organização do espaço e controlo das medidas de segurança devido à covid-19, inclusive na entrada dos fiéis.
Entre as medidas impostas estão o uso obrigatório de máscara, a desinfeção das mãos, a comunhão apenas na mão e o respeito pelos lugares assinalados nos bancos da igreja, com um autocolante onde se lê "sente-se".
"Tudo isto é uma novidade para nós e temos de nos adaptar", reforça o pároco Nuno Rosário Fernandes, ressalvando que o tempo de confinamento custou a todos, desde padres a fiéis, pelo que é preciso "retomar com alguma tranquilidade", para garantir segurança no contexto da pandemia.
Com capacidade para acolher 300 pessoas, das quais 250 sentadas e as restantes em pé, a igreja de Benfica retoma as celebrações eucarísticas, no contexto da pandemia da covid-19, com a limitação de ter apenas lugar para 70 pessoas. A redução de lugares visa assegurar a distanciamento social, existindo "lugares próprios para as famílias".
"É muita gente que, certamente, vai ficar sem a possibilidade de participar na eucaristia", admite o pároco, aconselhando as pessoas de mais idade e que fazem parte do grupo de risco a não irem à missa ao domingo, dia em que se prevê mais procura.
Durante as celebrações eucarísticas, a comunhão do corpo de Deus é apenas nas mãos dos fiéis e o gesto da paz, com a troca de dois beijinhos, continua suspenso. "Não é um gesto que seja obrigatório, que faça falta na celebração, é um gesto simbólico, com todo sentido, mas neste momento não se faz, omite-se", reforça o padre Nuno Rosário Fernandes.
Preparado para entrar na igreja, acompanhado da mulher, José Costa, de 75 anos, lembra os "tantos meses" em que não foi possível participar nas missas, pelo que teve de vir no primeiro dia de desconfinamento.
"A gente claro que via pela televisão em casa, mas não é a mesma coisa, é diferente", ressalva José Costa, manifestando segurança em voltar a poder entrar na igreja, com as condições exigidas, que considera que estão "mais bem reunidas do que nos supermercados e nas feiras".
Com a missa prestes a começar, Maria Otília Pereira, de 84 anos, surge de passo apressado. Estava sentada no outro lado da estrada da igreja quando se apercebeu das pessoas a entrar e estranhou, porque não sabia que as celebrações eucarísticas seriam hoje retomadas.
"Eu quero ir à missa, já estou há muito tempo sem ter missa e sinto-me triste, porque fui criada sempre, desde pequena, a ir à missa e, agora, ver a igreja fechada tanto tempo, custa muito", afirma a idosa, esperando que as celebrações continuem a realizar-se.
Abertas as portas da igreja, "o Espírito Santo pôs fim ao confinamento", começa por dizer o padre durante a celebração da missa, indicando que "não estava em quarentena, estava em cinquentena pascal", porque "nenhuma porta fechada impede Jesus de entrar".
"Que bom estarmos aqui, depois de tanto tempo", enaltece o pároco, perante uma assembleia bem composta, mas sem ultrapassar a lotação máxima de 70 pessoas.
As vozes dos fiéis voltaram hoje a ecoar, mesmo com máscara, inclusive os cânticos. O pároco reforça que, apesar da limitação de lugares dentro da igreja, os fiéis têm "sempre lugar no coração de Deus", destacando a abertura de "tantas igrejas domésticas" no seio da família, no âmbito do confinamento devido à pandemia.
No momento da homilia, o padre disse que a pandemia pode ser um sinal "indicador do Espírito Santo", para que se perceba que "a igreja não é uma estrutura física, a igreja é um corpo". Para as pessoas que ainda estão obrigadas a estar confinadas devido à covid-19, foi pedida uma "presença salvadora" de Jesus Cristo.
Com as portas da igreja já fechadas, na comunhão, momento de "tanta saudade" dos fiéis na partilha do pão, o padre colocou a máscara, desinfetou as mãos e assinalou o corpo de Deus. De forma ordeira, os fiéis puderam voltar a celebrar a ceia de Jesus Cristo.