O primeiro a discursar nas comemorações do 10 de junho foi D. Tolentino de Mendonça, este ano Presidente das Comemorações, que começou referir que pensou neste discurso "como uma reflexão sobre as raízes", frisando a Madeira, de onde é natural.
"Cada português é uma expressão de Portugal e é chamado a sentir-se responsável por ele. Pois quando arquitetamos uma casa, não nos podemos esquecer que nesse momento, estamos também a construir a cidade", afirmou ainda. "Quando queremos interpretar a árvore, não poderemos esquecer que ela não viveria sem as raízes".
Sobre Camões, "deixou-nos a herança, a poesia". Se ao cabo de centenas de anos, o evocamos "não é apenas porque nos ofereceu em concreto o mais extraordinário mapa mental do Portugal do seu tempo, mas também porque iniciou um inteiro povo nessa inultrapassável arte de navegação interior que é a poesia".
"Camões desconfinou Portugal no Século XVI e continua a ser, para a nossa época, um claro mestre da arte do desconfinamento. Porque desconfinar não é simplesmente voltar a ocupar o espaço mas é sim poder habitá-lo plenamente, poder modelá-lo de forma criativa", disse ainda, acrescentando que "desconfinar é não se conformar com os limites da linguagem, das ideias, dos modelos e do próprio tempo".
Ainda durante o mesmo discurso, o cardeal avisou que "a vida é um valor sem variações", defendendo o relançamento da aliança intergeracional para ajudar os idosos, as "principais vítimas da pandemia", a serem "mediadores de vida para as novas gerações".
Na perspetiva de Tolentino, é preciso "reforçar o pacto comunitário", o que implica "relançar a aliança intergeracional" porque o pior que "podia acontecer seria arrumar a sociedade em faixas etárias".
"A tempestade provocada pela covid-19 obriga-nos a refletir sobre a situação dos idosos em Portugal e desta Europa. Eles têm sido as principais vítimas da pandemia", lamentou.
Para Tolentino Mendonça, é preciso "rejeitar firmemente a tese de que uma esperança de vida mais breve determina uma diminuição do seu valor intrínseco" porque "a vida é um valor sem variações".
"Uma raiz do futuro de Portugal passa por aprofundar a contribuição dos seus mais velhos, ajudando-os a viver e a assumir-se como mediadores de vida para as novas gerações", defendeu.
O discurso foi proferido nos claustros do mosteiro, depois de o Presidente da República ter deposto uma coroa de flores no túmulo de Camões e prestar homenagem aos mortos em combate, na Igreja de Santa Maria de Belém.
Já a cerimónia teve início às 11h00, com o içar da bandeira e o hino nacional executado pela Banda da Força Aérea, no exterior do Mosteiro dos Jerónimos, onde houve uma guarda de honra formada por cadetes dos três ramos das Forças Armadas.
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