Escola Serafim Leite é melhor pública por incentivar projetos em ciência

A Escola Secundária Serafim Leite, melhor estabelecimento público nacional numa avaliação elaborada pela Lusa, atribuiu hoje esse sucesso à "cultura própria" que desafia 800 alunos para projetos paralelos de ciência e outras iniciativas de complemento à aprendizagem convencional.

Notícia

© Global Imagens

Lusa
27/06/2020 06:37 ‧ 27/06/2020 por Lusa

País

Exames

 

Fundada em 1958 no concelho de São João da Madeira, distrito de Aveiro, esta foi escola estatal que obteve melhores resultados entre os 514 estabelecimentos públicos e privados analisados pela Agência de Notícias de Portugal, terminando o ano letivo de 2018/2019 com uma média de 13,29 valores entre os 155 exames nacionais realizados pelos seus alunos.

Num edifício modesto muito mais silencioso do que era habitual antes de a pandemia de covid-19 obrigar 750 dos seus estudantes a terem aulas em casa, a diretora da escola, Anabela Brandão, diz-se "cheia de saudades dos miúdos" e está ansiosa por partilhar com eles a notícia de que ocupam o primeiro lugar num 'ranking' em que só são superados por colégios privados.

Garantindo que as notas dos seus alunos "não são inflacionadas", como acredita ser tendência em estabelecimentos privados, a professora não hesita em apontar a principal razão desse sucesso: "Ao fim de 12 anos de estudo, parece que tudo está condicionado ao exame nacional, mas a vida de um aluno dentro da escola é muito mais do que isso. Dentro deste ambiente controlado, tentamos dar-lhes todas as experiências possíveis para que adquiram competências e aptidões que lhes permitam, quando saírem da escola, traçar os caminhos que quiserem e concretizar os seus sonhos".

Na prática, isso passa por envolver alunos e professores em projetos de ciência, tecnologia, arte, política, o que abrange desde campeonatos internacionais de robótica, olimpíadas de matemática ou biologia, competições de cálculo mental ou ilustração, até campanhas contra a discriminação racial, aplicações telefónicas como a que indica a ocupação das praias em contexto de covid-19 e ações de caráter cívico e político como a que há duas semanas lhes um prémio no concurso "Euroescola" - que, promovido pelo Parlamento Europeu em parceria com outras entidades portuguesas, levará agora 24 estudantes de São João da Madeira à sede do órgão deliberativo da União Europeia, em Estrasburgo.

"Ainda no outro dia, o agrupamento inteiro envolveu-se numa atividade com a Estação Espacial Internacional e os alunos estiveram a comunicar com os astronautas", acrescenta Anabela Brandão com uma vaidade só atenuada pela máscara respiratória, explicando que, pela interligação entre várias disciplinas e diferentes turmas, essas iniciativas têm sempre o mérito de envolver os participantes em "algo diferente" do programa oficial.

"Como estes projetos geralmente têm muito sucesso, os miúdos ficam muito mais motivados para a escola e para a aprendizagem", o que lhes confere competências novas para "voltarem ao currículo e continuarem a estudar".

Fátima Pais é uma das docentes que, ao longo dos anos, tem coordenado vários projetos paralelos ao currículo oficial, sobretudo na área da tecnologia, e diz que essa dinâmica reflete "uma cultura de escola" empenhada em exercitar as capacidades práticas dos jovens em vez de se limitar a divulgar a teoria.

"As melhores médias vêm do ensino privado, mas quando os alunos acabam o curso o que conta é quem teve preparação para a vida", defende a docente, sem ocultar alguma desilusão por o sistema atual valorizar muito mais o resultado de um exame nacional "realizado num único dia" do que toda a classificação obtida pelo aluno ao longo de todo o ano letivo.

Mesmo temendo que, no final do presente ano escolar, o ensino à distância leve a que se inflacionem ainda mais os resultados do privado e faça com que "quem dá notas de forma justa seja ultrapassado", Fátima Pais continuará a seguir um modelo de que se orgulha.

"Esta escola fervilha de atividade porque nós acreditamos que não é só com as matérias tradicionais que se pode ensinar e aprender. Acreditamos no trabalho de equipa. Um projeto de Matemática pode ir buscar componentes ao Português, ao Inglês, à Físico-Química, e o que aqui praticamos há muitos anos é o cruzamento entre as diferentes áreas, para que a aprendizagem seja mais significativa e não haja compartimentação dos saberes", descreve.

Exemplo concreto de um talento que evolui com a prática é o domínio da oralidade e a capacidade de argumentação: "Ao desenvolverem um projeto, os alunos precisam de comunicar. Isso é logo uma competência que está a ser desenvolvida e, se calhar, nem está no 'receituário' das disciplinas".

Diogo Cruz assiste à conversa calado, mas quando conta à Lusa todos os projetos paralelos em que já esteve envolvido na Serafim Leite percebe-se porque é que as professoras depositam grandes expectativas na sua média anual de 19,3 valores. Só em 2019, o jovem de 17 anos do Curso de Ciências e Tecnologia participou em diferentes olimpíadas, no concurso nacional de leitura, em projetos de voluntariado como o banco alimentar, na competição "Euroescola" e no programa "Erasmus+", que lhe proporcionou viagens a Itália e à Alemanha em trabalhos sobre ambiente e desigualdade social.

Com colegas de Economia e Artes desenvolveu ainda a aplicação "Beach Clean Party", que organiza festas cujo objetivo é proceder à limpeza de praias, e, analisando a carga horária que toda essa atividade representou de esforço adicional, faz da experiência um balanço convicto: "Eu era uma pessoa muito envergonhada e o teatro ajudou-me a conseguir expressar-me. O Parlamento Jovem também me ajudou nessa componente comunicativa e, na técnica, o Laboratório de Programação fez-me entender que o que aprendemos tem aplicabilidade e pode usar-se em diversas áreas na vida real. Não ter estas atividades era tirar-me um dos meus pilares-base".

 

Partilhe a notícia

Produto do ano 2024

Descarregue a nossa App gratuita

Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas