Em comunicado divulgado hoje, o SMZS assegurou que "reafirma, desde já, que não tolerará qualquer responsabilização dos médicos locais, que desempenharam as suas funções com o maior respeito pela 'leges artis' e que tiveram a coragem de denunciar as más práticas".
A estrutura sindical, pertencente à Federação Nacional dos Médicos (FNAM), apelou "a todos os médicos para que se mantenham unidos e preparados para um futuro breve de fortes medidas de contestação".
No comunicado enviado hoje à agência Lusa, o sindicato lembrou que foi quem "iniciou a denúncia sobre as políticas autocráticas levadas a cabo pela Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo no dia 29 junho" sobre o surto no lar em Reguengos de Monsaraz.
Tal aconteceu "dias depois desta ARS ter proibido o gozo de férias pelos profissionais de saúde, devido ao surto por SARS-CoV-2 no Lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva (FMIVPS)", pode ler-se.
Segundo o SMZS, que tece outras críticas à ARS do Alentejo em relação ao surto da doença que eclodiu no lar da FMIVPS, em 18 de junho, provocando 18 mortos, "os médicos mantiveram", ainda assim, "a sua posição de defesa da saúde dos doentes".
E "as suas denúncias trouxeram a público, não só por meio do SMZS, mas também pelo relatório da Ordem dos Médicos, decisões tomadas e que colocaram em causa a vida e a saúde da população local", assinalou a estrutura sindical.
"As precárias condições do lar" ou "a inexistência de condições para cumprir as orientações básicas da Direção-Geral da Saúde no que diz respeito ao isolamento dos doentes infetados" e "o atraso no seu isolamento após o primeiro caso confirmado, assim como "a insuficiência de recursos humanos", foram exemplos indicados, entre outros.
Mas "tudo foi ignorado", isto é, as "denúncias" e os "sucessivos alertas dos médicos locais", e "gerou ameaças por parte de responsáveis políticos", lamentou o SMZS, criticando o primeiro-ministro, António Costa: "Esta situação tornou-se ainda mais incompreensível quando afirmou que os médicos 'se recusaram a trabalhar'".
"A negação da realidade e as tentativas de manipular a opinião pública mantêm-se", disse o SMZS, com críticas às ministras do Trabalho e da Segurança Social e da Saúde, bem como a outros responsáveis.
"As tentativas de escamotear a verdade continuam quando se inicia a discussão da obrigatoriedade dos médicos em trabalhar no setor social", sendo que "a maioria dos lares pertencem a instituições com gestão e propriedade privadas", lê-se no comunicado.
O surto de Reguengos de Monsaraz provocou 162 casos de infeção, a maior parte no lar da FMIVPS (80 utentes e 26 profissionais), mas também 56 pessoas da comunidade, tendo morrido 18 pessoas (16 utentes e uma funcionária do lar e um homem da comunidade).
A Procuradoria-Geral da República disse depois à Lusa que foi instaurado um inquérito sobre o surto de covid-19 neste lar e que está a analisar o relatório da comissão de inquérito da Ordem dos Médicos acerca da instituição de apoio aos idosos, conhecido a 06 de agosto e que aponta para o incumprimento das orientações da Direção-Geral da Saúde.