Em declarações à Lusa a propósito de um comunicado em que a FNAM revelou ter "conhecimento de que o Ministério da Saúde terá solicitado a elaboração de uma escala composta por médicos de família para prestação de cuidados a utentes de um lar no Barreiro", Noel Carrilho criticou a postura da ministra Marta Temido e exigiu a definição de uma solução diferente para este tipo de problemas.
"Denunciamos a solução que se encontra para este tipo de casos -- que estão a tornar-se repetitivos -- por, basicamente, colocar a responsabilidade nas mãos dos médicos de família adstritos à área do lar. Isto não é uma solução, é um atirar de responsabilidades para os médicos", afirmou o líder da FNAM, reiterando que o organismo é "a favor de integrar essas instituições no Serviço Nacional de Saúde (SNS)".
De acordo com Noel Carrilho, esta indicação de deslocação de médicos de família para prestar assistência a utentes nos lares vai resultar no prejuízo dos outros doentes alocados a cada profissional, embora tenha assegurado que não vão existir quaisquer recusas de auxílio.
"Não podemos estar a perpetuar no tempo uma solução que foi definida para uma situação de emergência. Nesta altura não há tantos casos que não permitam estabelecer uma solução que preserve os direitos de todos os doentes", sublinhou, a propósito do despacho de abril de Marta Temido, que determinou que os doentes com covid-19 residentes em lares e sem necessidade de internamento hospitalar seriam acompanhados pelos médicos de família e enfermeiros dos respetivos agrupamentos de centros de saúde.
Questionado sobre o receio de uma repetição da polémica que se verificou na atuação no surto de covid-19 no lar de Reguengos de Monsaraz, do qual resultaram 18 mortos e uma troca de acusações entre governo e Ordem dos Médicos, o presidente da FNAM garantiu que tal não deverá voltar a acontecer, porque os profissionais estão "atentos" às condições que vão ser dadas para a prestação desses cuidados. E deixou um apelo à tutela para o diálogo.
"A ministra da Saúde, simplesmente, não nos recebe. Temos propostas em relação ao SNS, em relação especificamente à pandemia, e estamos abertos a negociar este tipo de atividade extraordinária no âmbito da covid-19, mas essa não tem sido a postura da ministra. Portanto, toma medidas unilaterais, sem ouvir os profissionais, e vai pecar por erros básicos", notou, finalizando: "Isto não é solucionar nada, é desresponsabilização".
Na base desta tomada de posição está o caso do lar de idosos São João, no Barreiro, onde um surto de covid-19 deu origem a mais de meia centena de casos e quatro óbitos.
Portugal contabiliza pelo menos 1.809 mortos associados à covid-19 em 56.673 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).