São João cria unidade para procedimentos endoscópicos a doentes positivos
O Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ) conta, a partir de hoje, com uma unidade específica para procedimentos endoscópicos a doentes covid-19 ou fortemente suspeitos, serviço que, além de mais segurança, permitirá acelerar a lista de espera.
© Global Imagens
País Covid-19
Em causa está o Serviço de Endoscopia Digestiva do Serviço de Gastrenterologia, espaço habitualmente associado a procedimentos como endoscopias, colonoscopias, ecoendoscopia ou os CPRE (ecografia ao pâncreas e vias biliares).
Em declarações à agência Lusa, o diretor do Serviço de Gastrenterologia do CHUSJ, Guilherme Macedo, explicou que com esta nova unidade se aposta "não só em que os profissionais tenham uma adequada proteção e consigam prestar cuidados nas condições de maior segurança possível", mas também na "reabilitação da confiança do doente não covid", uma vez que fica garantido que "não existem cruzamentos".
"A decisão que motivou a criação desta estrutura resultou da antevisão das circunstâncias epidemiológicas da atual pandemia, devendo ser garantido o acesso dos doentes positivos a todo o tipo de exames endoscópicos. Esta logística, criada em tempo útil, otimiza também as condições de assistência para os doentes não covi-19, que "terão acesso ao Centro de Endoscopia Digestiva em circunstâncias normalizadas", descreveu o diretor.
A unidade que hoje entrou em funcionamento terá uma capacidade instalada para 15/20 doentes por dia.
O acesso de doentes positivos ou fortemente suspeitos será feito pelo exterior do hospital, através de um circuito novo que também contempla a criação de uma zona estanque para profissionais de saúde, na qual se podem equipar e vestir, existindo equipas diferenciadas para a área covid e não covid.
Segundo informação remetida à Lusa pelo CHUSJ, "estas abordagens exclusivas de circulação, destinadas a doentes de ambulatório e doentes internados, bem como a profissionais de saúde, proporcionam um grande incremento de segurança e confiança para todos os que precisam destes meios diagnósticos e terapêuticos".
Atualmente, o Serviço de Gastrenterologia do CHUSJ está a realizar cerca de 250 exames por semana, estando "aquém do normal na era pré-covid" quando realizava cerca de mais 100 no mesmo período, segundo o diretor.
Guilherme Macedo também aponta, como consequência desta aposta, a otimização do tempo entre cada exame e admite que acelerar a lista de espera será uma consequência natural.
"Vamos conseguir oferecer a mais doentes a nossa capacidade de intervenção endoscópica. A gastroenterologia e, em particular, a área da endoscopia têm uma importância crescente na contribuição para a saúde digestiva dos portugueses. O número de solicitações tem sido progressivamente maior ao longo dos anos", apontou o especialista.
Em média, e segundo uma estimativa de Guilherme Macedo que ressalvou que existem diferenças para cada tipo de exame e que a lista de espera em gastrenterologia está diretamente relacionada com a lista de espera em anestesiologia, um paciente do CHUSJ pode esperar cerca de seis meses por um procedimento endoscópico.
O diretor do Serviço de Gastrenterologia do CHUSJ reconheceu que "esta é uma preocupação já pré-pandemia" e que a estrutura do serviço, "tal como a conhecíamos, não era capaz de dar resposta".
"E com a pandemia tudo se agravou", referiu à Lusa, acrescentando que o hospital aproveitou este momento para reformular a capacidade de intervenção e que "esta solução física adicional é algo que traz uma vantagem estratégica".
O Serviço de Endoscopia Digestiva funciona há cerca de 10 anos dividido entre espaço físico no edifício principal do hospital e 18 contentores.
Este novo circuito soma oito contentores à estrutura anterior, o que se traduz num aumento do serviço de cerca de 20%.
"Temos vindo a alertar muito pela necessidade de correção e de reabilitação [desta situação]. Temos mais músculo e capacidade de responder, mas é um músculo que precisa de ser bem nutrido e bem integrado num corpo diferente. Obviamente consideramos que os contentores são soluções transitórias", disse Guilherme Macedo.
A pandemia de covid-19 já provocou quase 958 mil mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 1.912 em Portugal.
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