Pandemia? "Comunidade internacional falhou", diz Marcelo Rebelo de Sousa
O Presidente da República falou na abertura do Fórum La Toja, na Galiza sobre o impacto da pandemia na comunidade internacional, considerando que "vivemos uma crise de multilateralismo".
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Marcelo Rebelo de Sousa fez reflexões sobre o período pós-pandemia na abertura do Fórum La Toja, na Galiza, Espanha, onde começou por apontar "a mudança geopolítica no mundo". "Vivemos um período de transição. Já vivemos o bipolarismo, o monopolarismo, vivemos hoje um misto de multilateralismo sem ferramentas, bipolarismo a nascer e proteccionismo e unipolarismo desejado por muitos".
"Primeiro vivemos um multilateralismo imperfeito, há um crescimento de polos, mas essa emergência de polos não é acompanhada de um multilateralismo nas instituições internacionais", apontou em seguida, acrescentando que "vivemos uma crise de multilateralismo quando era tão importante que ele existisse".
A pandemia da Covid-19 "mostrou o fracasso deste multilateralismo imperfeito", considerou o Presidente da República. "Na sua revelação, na colaboração internacional, no papel das organizações mundiais, na capacidade de conseguir resolver a prevenção e, ao mesmo tempo, o cuidado na saúde como na vida, essenciais na superação da crise económica e social".
Para o Chefe de Estado, "a comunidade internacional falhou". "Falhou ao descobrir a pandemia tarde demais, falhou ao mudar de posição sobre a pandemia várias vezes, falhou quando grandes poderes do mundo decidiram atuar sós, sem colaboração, com egoísmo, com isolacionismo, dando um mau exemplo àquilo que devia ser o multilateralismo perante um problema comum", assinalou.
Europa deve ser uma potência política para garantir equilíbrio
Perante esta crise de multilateralismo internacional, o chefe de Estado português defendeu que a União Europeia deve assumir-se como potência política e estratégica para garantir o equilíbrio mundial. "Neste período tão complexo é fundamental que a União Europeia seja ela própria uma potência. Que ela seja uma potência política e estratégica, como é comercial" , afirmou.
"Que ela esteja unida e seja rápida a decidir como foi rápida a decidir no Conselho Europeu em que definiu um horizonte para a saúde, um horizonte para a crise económica e social, medidas de emergência e planos para o médio e longo prazo", sustentou.
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que só com "mais Europa e mais União Europeia" haverá "equilíbrio no mundo", confrontado com "ao aparecimento de posições isolacionistas e contrárias ao livre comércio internacional, colocando problemas no relacionamento entre aliados de sempre", referindo à tensão entre os EUA e a China.
"Foi o que aconteceu não no plano político e da defesa, mas no plano económico e financeiro entre EUA e a União Europeia", disse.
EUA vs. China, um "bipolarismo que cresce"
O Presidente da República frisou ainda que assistimos a um "bipolarismo que cresce". "De um lado, a potência nossa aliada histórica nas relações transatlânticas, os Estados Unidos da América. Poderosos na política, na defesa, na geoestratégia, na presença no mundo, na livre iniciativa empresarial" e, do outro, "temos uma potência que emerge: a República Popular da China, tentando ocupar o papel da potência global que já não é, convertida em potência regional, a Federação Russa", explicou.
"A República Popular da China, parceiro económico de Portugal, há quase 500 anos, mas que não tem a posição que tem o aliado norte-americano. A República Popular da China, que cresce no mundo através da sua presença económica mais do que geopolítica ou militar", concluiu.
Marcelo pede convergência e diálogo. "Cidadãos não perdoam guerras"
Marcelo Rebelo de Sousa, apontou como desafio nacional para enfrentar a crise causada pela pandemia a "convergência" e o "diálogo", advertindo que os "cidadãos não perdoam guerras" em período de "emergência".
"Os cidadãos não perdoam guerras neste período de emergência. Que se sobreponham interesses particulares, privados, setoriais, de uma ou de outra instituição àquilo que deve ser o interesse comum", afirmou o Chefe de Estado na abertura do Fórum La Toja.
O Presidente da República avisou que as crises económicas "não conhecem conveniências táticas ou setoriais" e defendeu "um verdadeiro compromisso dos que estão na vida pública e no serviço público".
Recorde-se que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o rei de Espanha, Felipe VI, encontraram-se em Pontevedra, na Galiza, antes de participarem os dois na abertura do Fórum La Toja.
O Fórum La Toja, realizado na ilha com o mesmo nome, pretende ser "um evento de referência no debate intelectual e académico", em defesa dos "valores da democracia liberal", e na primeira edição, no ano passado, contou também com a presença do rei de Espanha, Felipe VI.
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É a terceira vez que Marcelo Rebelo de Sousa e o rei Felipe VI se encontram no atual contexto de pandemia de Covid-19 e a terceira vez que o Presidente da República se desloca a Espanha neste período.
[Última atualização às 20h22]
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