"A suspensão das ligações aéreas entre Lisboa e Abidjan [capital económica da Costa do Marfim], veio provocar enormes transtornos tanto à comunidade portuguesa como aos negócios", disse à agência Lusa o presidente da Câmara de Comércio Luso-Marfinense, Tiago Garcia Domingues.
Este português, que vive na Costa do Marfim desde 2012, é o promotor da petição pela "Retoma da Operação Aérea da TAP Air Portugal Lisboa/Abidjan -- Abidjan/Lisboa", lançada durante o fim de semana e que conta com pouco mais de duas centenas de assinaturas.
"A TAP continua sem nos dar respostas. Já começou a voar para outros países africanos vizinhos, nomeadamente para o Gana e o Senegal, com taxas de ocupação [dos aviões] muito menores do que as da Costa do Marfim", acrescentou.
Segundo Tiago Garcia Domingues, até à suspensão dos voos por causa da pandemia de covid-19, a ocupação dos aviões, que faziam a rota Lisboa/Abidjan/Lisboa cinco vezes por semana, situava-se entre os 75% e os 86%.
Os promotores da petição assinalam que a Costa do Marfim tem uma taxa de crescimento económico de 8,6 por cento ao ano e é dos países que mais cresceu no mundo, sendo a Europa um dos seus principais parceiros comerciais, com um número crescente de empresas portuguesas que exportam para o país.
Por outro lado, apontam, é também cada vez maior o número de empresas e de quadros portuguesas a trabalhar na Costa do Marfim, onde se destaca a Mota-Engil, cujos funcionários representam quase metade dos 400 emigrantes no país.
"Também se verifica, sendo crescente, o interesse dos marfinenses por Portugal, não só para turismo, mas, e cada vez mais, como destino de investimento. E a situação de pandemia que vivemos, decorrente do novo coronavírus [que causa a doença covid-19], em vez de retrair esta tendência, adensou-a", refere o texto que fundamenta a petição.
Por isso, defendem, "urge retomar a operação aérea portuguesa de e para a Costa do Marfim, sendo do interesse primeiramente da TAP Air Portugal, no sentido de reforçar o posicionamento estratégico no continente africano, [...], mas também do país em geral, considerando o interesse e o impacto internacional que esta operação representa, e dos cidadãos portugueses em particular".
Tiago Garcia Domingues explicou que tentaram "pressionar" uma solução através da embaixada de Portugal no Senegal, que tem a jurisdição da Costa do Marfim, mas perante a falta de respostas da TAP, querem levar o assunto ao parlamento, onde já registaram a petição.
Para ser discutida em comissão, a iniciativa deverá recolher pelo menos 1.000 assinaturas e 4.000 para subir a debate em plenário.
O presidente da Câmara de Comércio Luso-Marfinense recordou ainda que as ligações aéreas entre Lisboa e Abidjan se inserem no fortalecimento das relações entre Portugal e a Costa do Marfim, reforçado com a visita do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao país no ano passado.
"O compromisso politicamente firmado entre os dois países foi determinante para a decisão do governo português de criar, ainda este ano, uma embaixada na capital política e financeira da Costa do Marfim", sublinha o texto.
A agência Lusa contactou a TAP, mas até ao momento não obteve resposta.
As fronteiras aéreas da Costa do Marfim estão abertas aos voos internacionais desde 01 de julho de 2020 e todos os passageiros são sujeitos a controlos sanitários e monitorização durante a estadia na Costa do Marfim, devendo apresentar um certificado negativo do teste covid-19 com data não superior a sete dias.
A Costa do Marfim regista 20.324 casos acumulados de covid-19, 121 mortes e 20.029 doentes dados como recuperados.