Enfermeiros do Norte exigem clarificação após caso de espera de 14 horas
A Ordem dos Enfermeiros Norte exigiu hoje à tutela "informação transparente" sobre o número de camas disponíveis em cuidados intensivos para covid-19, denunciado que um doente do Hospital de Penafiel esperou 14 horas para ser admitido em Viseu.
© REUTERS/Rafael Marchante
País Covid-19
Em declarações à agência Lusa, o presidente da secção regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros, João Paulo Carvalho, afirmou ter recebido a informação de que um doente "esteve entre as 03h e as 09h na urgência do hospital de Penafiel a aguardar vaga em intensivos", tendo depois sido transferido para Viseu, onde "chegou às 16h".
"Isto é gravíssimo e faz-nos questionar a capacidade atual de cuidados intensivos a Norte. Porque é que o doente foi para Viseu, fora da região? Já não há vagas na região? Em causa está o cuidado a doentes críticos, doentes altamente complexos que precisam de equipas altamente diferenciadas. O risco é de morte. Temos de fazer uma gestão muito cuidada desta situação", referiu à Lusa João Paulo Carvalho.
A secção regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros quer que a tutela esclareça quantas camas de cuidados intensivos existem, falando em "contradição de números".
"É muito estranho que num dia a senhora ministra dê um número, ainda que fazendo projeções, e hoje esse número já seja outro de acordo com o senhor secretário de Estado. Esta questão dos números está a baralhar muito e gera confusão na gestão da pandemia [da covid-19]. Esta é uma questão que tem de ser clara e transparente. Falta coordenação entre hospitais, mas acreditamos que isso seja gerado por orientações confusas do Ministério [da Saúde]", referiu o presidente da secção regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros.
Para explicar a tese da "confusão de números" de cuidados intensivos, João Paulo Carvalho recordou que a 26 de outubro, numa conferência de imprensa, a ministra da Saúde, Marta Temido, revelou que os internamentos por covid-19 nos hospitais, em enfermaria e unidades de cuidados intensivos (UCI), deveriam ultrapassar os três mil na semana seguinte.
Segundo as projeções do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) divulgadas a 26 de outubro pela ministra, a partir de 04 de novembro estimava-se que estivessem internados em enfermaria 2.634 doentes e 444 em UCI.
Já na quarta-feira, na conferência de imprensa dedicada ao ponto de situação sobre a pandemia do novo coronavírus, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, adiantou que das 373 camas em Unidades de Cuidados Intensivos para doentes covid, 325 já estavam ocupadas.
A agência Lusa procurou obter esclarecimentos sobre números de camas covid-19 em cuidados intensivos na região Norte, tendo a Administração Regional de Saúde (ARS-N) desmentido que já não existam vagas na região.
"A dotação de camas na região Norte em UCI [Unidades de Cuidados Intensivos] é de 405 camas. Destas 195 estão destinadas a covid-19. Até às 24h de ontem [quarta-feira] estavam ocupadas 176", referiu a ARS-N em resposta à Lusa.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,2 milhões de mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 2.740 em Portugal.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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