"news_bold">"É uma figura incontornável da arquitetura paisagista", mas também uma personalidade com várias dimensões, "não só um homem de Cultura, de Política, foi um homem de causas", disse Gonçalo Byrne.
Gonçalo Ribeiro Telles, figura pioneira na arquitetura paisagista em Portugal, morreu hoje, aos 98 anos, em casa, em Lisboa.
Figura tutelar da defesa da ecologia para fundamentar a intervenção na paisagem e no território, Gonçalo Ribeiro Telles foi o responsável pelo lançamento da política de ambiente em Portugal, cuja legislação incentivou quando passou por vários cargos públicos, nomeadamente como ministro de Estado e da Qualidade de Vida, entre 1981 e 1983.
Gonçalo Byrne recordou que Gonçalo Ribeiro Telles era membro honorário da Ordem dos Arquitetos, muito estimado entre pares, e destaca o corredor verde e os jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, ambos em Lisboa, como duas marcas identitárias do trabalho dele.
"Tomou posições extremamente importantes para a cidade de Lisboa, algumas delas completamente antes do tempo, e os temas que ele defendia estão hoje em cima da mesa, a questão do 'green deal' [Pacto Verde], a sustentabilidade", recordou Gonçalo Byrne.
Foi um dos principais responsáveis pelo desenho das áreas verdes de Lisboa, de Monsanto às zonas ribeirinhas, oriental e ocidental, do Vale de Alcântara, ao Jardim Amália, no Parque Eduardo VII, sem esquecer o Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, que fez em parceria com Viana Barreto, pelo qual recebeu o Prémio Valmor, em 1975, nem projetos noutras zonas do país, como o Vale das Abadias, na Figueira da Foz.
Nascido a 25 de maio de 1922, em Lisboa, Gonçalo Ribeiro Telles licenciou-se em Engenharia Agrónoma, e formou-se em Arquitetura Paisagista, no Instituto Superior de Agronomia, onde iniciou a vida profissional como assistente e discípulo de Francisco Caldeira Cabral.
Gostava de falar dos frescos de Lorenzetti, no Palácio Comunal de Siena, do século XIII, como exemplos de "Bom Governo" e "Mau Governo", na gestão e ordenamento das cidades.
No primeiro caso, sublinhava a imagem de uma cidade de portas abertas, numa comunicação entre o campo organizado e a urbe, com gente a entrar e a sair.
No segundo caso, a mesma cidade mas com as portas encerradas, como num grande condomínio fechado, dominado pelo tirano, rodeado pelas representações da crueldade, da traição, da maldade, da vã glória e da soberba.