A covid-19 e o confinamento a que esta tem obrigado, a nível global, desde março, estão na base da quase totalidade das palavras escolhidas pelas equipas do grupo editorial português, para uma eleição final que, este ano, se estende em simultâneo aos mercados angolano e moçambicano, onde a Porto Editora se estabeleceu através da Plural Editores.
Os casos de racismo e de "discriminação étnica" refletem-se igualmente na lista de palavras candidatas da Porto Editora, em Portugal, como forma de traduzir "a grande preocupação" sobre situações que põem "em causa os valores humanistas".
Este ano, o movimento Black Lives Matter ganhou dimensão internacional, após a morte de George Floyd, em Minneapolis, nos Estados Unidos, ao ser detido por um polícia, exatamente dois meses antes do homicídio do ator português Bruno Candé, morto a tiro numa rua de Moscavide.
Em Moçambique, a situação em Cabo Delgado, no norte do país, levou à proposta da palavra "ataques". A violência armada nesta região dura há três anos e está a provocar uma crise humanitária com cerca de 2.000 mortes, e mais de meio milhão de pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na área da capital provincial, Pemba.
Em Angola, além da pandemia, foi o adiamento das eleições autárquicas, assim como a "instabilidade social", sobretudo durante o estado de calamidade, que impuseram vocábulos como "manifestação" e "violência", de acordo a escolha da equipa de linguistas da Porto Editora.
A lista posta a votação 'online' em Portugal inclui os termos "confinamento", "covid-19", "discriminação", "digitalização", "infodemia", "pandemia", "saudade", "sem-abrigo", "telescola" e "zaragatoa".
"Digitalização" resulta das prioridades surgidas no contexto da pandemia, em todos os setores da sociedade; "infodemia" é um neologismo que conjuga "'informação' e 'epidemia'"; "telescola" e "saudade" regressaram a primeiro plano, no cenário de confinamento.
A perda de rendimento, na atual crise, a "assumir contornos de calamidade", em vários setores, como o da cultura, colocou de novo o "problema social crescente" dos "sem-abrigo" na ordem do dia, refletindo-se na escolha.
Em Angola, a lista proposta pela Plural Editores abre com "autárquicas", por causa das primeiras eleições locais em espera, no país, segue com "agricultura", pela procura de investimento no setor, conta ainda com "educação", devido a alterações constantes no sistema, e "manifestação", pelo aumento de protestos.
"Nacionalização", pelo regresso de várias empresas à esfera pública, e "violência", por causa do "excesso de zelo" da polícia, sobretudo nos primeiros meses do estado de calamidade, são outras propostas, às quais se juntam "coronavírus", "pandemia" e "quarentena", diretamente relacionadas com a covid-19.
Em Moçambique, a Plural propõe "ataques" e "refugiados", por causa das ações terroristas em Cabo Delgado, no Norte do país
A estas junta "coronavírus", "distanciamento", "emergência", "isolamento", "máscara" e "pandemia", numa relação direta com a covid-19.
"Desemprego" surge como consequência da crise sanitária, na base da falência de empresas e de destruição de postos de trabalho.
"Mahindra", uma marca de automóveis que se tornou sinónimo de polícia, é outro termo proposto.
A Porto Editora iniciou a escolha da Palavra do Ano, em Portugal, em 2009 e, em 2016, em Angola e Moçambique, através da Plural Editores.
No ano passado, "violência" foi a escolhida em Portugal, sobretudo pelo crescimento do número de casos de violência doméstica, que em 2019 esteve na origem da morte de 35 mulheres. Este ano, segundo o Observatório de Mulheres Assassinadas, 30 mulheres tinham morrido até ao início de novembro, neste contexto.
No ano passado, a votação para Angola escolheu "IVA" e, a de Moçambique, "reconciliação".
A votação 'online' decorre este mês, até às 24:00 do dia 31, nos endereços em www.palavradoano.pt (Portugal), www.palavradoano.co.ao (Angola) e www.palavradoano.co.mz (Moçambique).
Os resultados serão anunciados no dia 04 de janeiro.