"A fatura vem em janeiro. Só estamos à espera para perceber ao certo qual foi o resultado do Natal, sendo que neste momento há, acima de tudo, um risco", afirmou Óscar Felgueiras, matemático especialista em epidemiologia da Universidade do Porto.
Em declarações à agência Lusa, o especialista afirmou que a situação da evolução epidemiológica a Norte "é francamente melhor do que há um mês", mas que as medidas já anunciadas para o Natal e Ano Novo, ao darem "espaço de liberdade e acarretar incertezas", não deixam a região livre de uma "arrancada", à semelhança do que está a acontecer noutros países europeus, como a Alemanha e Holanda.
Se, porventura, a região Norte estacionar num patamar de incidência muito elevado, por exemplo nos 500 novos casos por 100 mil habitantes a cada 14 dias, "o potencial de subida pode ser grande", alertou o especialista.
"O risco existe e, acima de tudo, é importante que a população perceba que ele existe. No Natal, temos de nos proteger a nós e aos outros, principalmente aqueles com quem não costumamos estar, assim como temos de evitar contactos de risco. Se houver um esforço geral nesse sentido, pode ser que o efeito do Natal não seja tão sentido", disse.
No entanto, tal permanece "uma incógnita" que só será possível analisar e perceber em janeiro.
Apesar disso, o matemático da Universidade do Porto afirma que se "conseguiu colocar um travão, evitando a medida mais forte que se poderia tomar [confinamento geral]" e que tal está a resultar a Norte.
"O exemplo do Norte dá pelo menos algum sinal de esperança de que é possível conciliar a atividade económica com uma situação que não é de confinamento geral", referiu, acrescentando que tal melhoria é reflexo "da mudança muito importante do comportamento das pessoas".
À Lusa, Óscar Felgueiras adiantou que para a semana do Natal são esperados na região Norte cerca de 1.100 novos casos diários de infeção pelo SARS-CoV-2, bem como uma diminuição do número de internamentos e óbitos.
"A diminuição está a existir e está a ser essencialmente aqui no Norte, sendo que para já não é evidente uma clara descida no resto do país", afirmou, acrescentando, no entanto, que podem surgir "impactos contraditórios" como o do segundo fim de semana de confinamento com feriados e os concelhos que tiveram o levantamento de medidas.
"Nada vai fazer com que a tendência agora mude, nem que as pessoas tivessem um comportamento muito incorreto, isso não ia acontecer logo, é algo que demora e que se reflete com o tempo", disse.
E acrescentou: "Não é de esperar grandes surpresas, claro que já há muita gente a fazer compras, mas não se nota que haja aqui uma situação problemática".
Portugal contabiliza pelo menos 5.815 mortos associados à covid-19 em 358.296 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).
O país está em estado de emergência desde 09 de novembro e até 23 de dezembro, período durante o qual há recolher obrigatório nos concelhos de risco de contágio mais elevado.
Durante a semana, o recolher obrigatório tem de ser respeitado entre as 23:00 e as 05:00, enquanto nos fins de semana e feriados a circulação está limitada entre as 13:00 de sábado e as 05:00 de domingo, e entre as 13:00 de domingo e as 05:00 de segunda-feira.