A diretora-geral de saúde começou a conferência desta terça-feira por assinalar que o início da vacinação em todos os países, em simultâneo, "representa um momento e movimento de unidade da Europa que serve com equidade os seus cidadãos".
No entanto, acrescentou, "devemos ir além da celebração da vacinação na Europa. Devemos aspirar a que qualquer cidadão tenha a oportunidade de ser vacinado em qualquer parte do mundo".
Graça Freitas salientou que a estratégia de vacinação adotada em Portugal tem como objetivos de saúde pública reduzir a mortalidade, os internamentos e o sofrimento; reduzir os surtos e minimizar o impacto da pandemia quer no sistema de saúde quer na sociedade.
Com estes objetivos, "a médio prazo temos a expectativa de controlar a Covid-19, como já aconteceu com outras doenças e outras vacinas no passado", disse a responsável, recordando que em todos os países as vacinas vão chegar faseadamente ao longo de 2021.
"As pessoas serão vacinadas gradualmente até que toda a população esteja abrangida e essa vacinação vai ser feita com níveis de prioridade que são transparentes e que fazem parte do plano, e vão ser atualizados ao longo do tempo", realçou.
"Boa notícia" - a vacinação
Em Portugal, nos últimos dois dias, "foram vacinados 7.585 profissionais de saúde em cinco centros hospitalares", adiantou Graça Freitas, referindo que tal corresponde a cerca de 80% das doses disponibilizadas para estes hospitais nesta fase". A responsável lembrou que estes dados já serão, à data, melhores, uma vez que já foram vacinadas mais pessoas entretanto.
Respondendo às questões dos jornalistas, Graça Freitas disse que o balanço dos primeiros dias de vacinação é "muito positivo" e que "correu muito bem a chegada das vacinas a Portugal e como foi feita a distribuição e a vacinação".
A diretora-geral da Saúde voltou a alertar que "a vacinação não dispensa nesta fase, de forma alguma, as medidas de proteção recomendadas (distanciamento social, arejamento dos espaços, uso de máscara, a higiene das mãos e a etiqueta respiratória)".
"Quero, mais uma vez, pedir a todas as pessoas que estejam doentes ou em isolamento profilático que se mantenham isoladas e que cumpram as orientações das autoridades de saúde", pediu.
"Comemore o Ano Novo com quem cohabita"
Graça Freitas apelou ainda a que se cumpram as regras em vigor em cada concelho, nomeadamente no que diz respeito à mobilidade e ao ajuntamento entre pessoas". "Comemore o Ano Novo de preferência com as pessoas com quem cohabita, mas se estiver com outros agregados familiares, reforce os cuidados", reiterou.
Quanto à situação epidemiológica, a responsável referiu que os dados dos novos casos refletem que o país se mantém, no geral, "uma tendência epidémica decrescente".
A incidência a 14 dias é agora de 480 casos por 100 mil habitantes, registando-se naturalmente assimetrias entre concelhos e entre regiões. No período de 7 a 20 de dezembro, indicou, 26 concelhos estavam na categoria de máxima incidência, ou seja, acima de 960 casos por 100 mil habitantes.
Nova variante é "cocktail de mutações"
Sobre a nova variante do SARS-CoV-2 que terá surgido no Reino Unido nos finais de setembro, o investigador do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), João Paulo Gomes, salientou que estas mutações do vírus "preocuparam" os especialistas.
"Algumas dessas mutações afetavam a ligação do vírus às células, ou seja, potenciavam essa ligação. (...) Outras mutações estavam associadas à potencial perde de ligação com os anticorpos", explicou.
"Este cocktail de mutações originou uma preocupação muito grande, tendo em conta que foi possível observar, epidemiologicamente, que esta variante começou a crescer em frequência e a dominar completamente o número de casos Covid-19 no sul de Inglaterra", referiu o especialista, recordando que os primeiros casos da nova variante foram detetados na Madeira, sendo 18 o número de infetados com esta nova estirpe.
Portugal 'persegue' rasto da nova variante
No âmbito de um "mega estudo de sequenciação genómica do SARS-CoV-2", revelou João Paulo Gomes, "estamos a focar-nos na deteção desta variante" naquela que será a segunda fase do processo, depois de terem sido detetados os primeiros casos.
O investigador explicou que vão ser seguidas "duas pistas". Uma delas prende-se com o historial de viagens ao Reino Unido. A segunda relaciona-se com o facto de se ter constatado que alguns dos testes utilizados atualmente, às vezes, falham uma das regiões [do vírus].
"Isto é uma fortíssima indicação de se tratar da presença da variante do Reino Unido", afirmou, sublinhando que os primeiros diagnósticos feitos na Madeira cumpriam estes dois critérios.
"É com base nisto que estamos a perseguir esta variante no país e a tentar encontrar outras também". De acordo com o especialista, o INSA está já a receber amostras de testes realizados em todo o país, sobretudo de testes realizados nos aeroportos de Lisboa e do Porto.
"Não é de admirar" que nova variante circule no continente
"Os laboratórios têm dado uma resposta muito positiva", salientou, antevendo ser possível uma conclusão, dentro de dias, sobre esta nova estirpe está já a circular em território continental, o que, a confirmar-se, não surpreenderá o especialista, tendo em conta que, comprovadamente, esta variante mais contagiosa já existe em 15 países.
"O Reino Unido em primeiro, e Portugal logo em segundo, devido aos 18 casos detetados. Não é de admirar (...) Isto não é particularmente preocupante para nós, é algo para o qual devemos estar preparados. É mais do que normal que esse número aumente e que se essa circulação seja detetada também no continente".
Recorde aqui a conferência da DGS
Portugal registou, nas últimas 24 horas, 74 vítimas mortais e mais 3.336 infetados pelo novo coronavírus, ultrapassando assim a barreira de 400 mil casos confirmados, desde o início da pandemia.
Já quanto a óbitos, desde que a Covid-19 chegou a Portugal, 6.751 pessoas não resistiram à doença, revela o boletim epidemiológico divulgado, esta terça-feira, pela DGS.
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