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"Enfermeiros estão de rastos, literalmente, e num grande sofrimento"

Ana Rita Cavaco socorreu-se do Facebook para fazer um retrato duro da situação em que se encontram os enfermeiros numa altura em que a pressão aumenta nos hospitais com o agravamento da pandemia no país. "Tornámo-nos no País que comprou ventiladores e exporta enfermeiros", aponta.

"Enfermeiros estão de rastos, literalmente, e num grande sofrimento"
Notícias ao Minuto

16:30 - 10/01/21 por Notícias Ao Minuto

País Covid-19

A Bastonária da Ordem dos Enfermeiros tece críticas à atuação do Governo no combate à pandemia, acusando o Executivo de correr sempre atrás do prejuízo. Ana Rita Cavaco refere-se, por exemplo, ao facto de, desde o início da vacinação, a Ordem ter pedido para que fossem usadas seis doses de cada frasco e não cinco "porque a Pfizer já havia dito que era assim". 

"Mas claro, esperámos pela EMA [Agência Europeia do Medicamento] que só acordou ontem [sexta-feira]. Como em tudo, desde sempre, os governantes correm atrás do prejuízo e deitámos milhares de vacinas para o lixo", acusa Ana Rita Cavaco. De recordar que a ministra da Saúde, Marta Temido, assegurou ser "falso" que Portugal tenha desperdiçado seis mil doses, conforme tinha noticiado o Expresso. 

Prosseguindo no desabafo no Facebook, a Bastonária traça um retrato da realidade que os profissionais de saúde enfrentam. "Há doentes pelo chão, hospitais em colapso", descreve. Ana Rita Cavaco diz receber chamadas de manhã à noite a pedirem enfermeiros.

"Costumo dizer que não os tenho no bolso mas estão 20 mil a trabalhar no estrangeiro. Podiam voltar? Podiam, mas por contratos de 4 meses é óbvio que não vêem. Tornámo-nos no País que comprou ventiladores e exporta enfermeiros", critica. Acrescenta ainda que "os enfermeiros estão de rastos, literalmente, e num grande sofrimento por assistirem impotentes ao caos diário".

A responsável concretiza depois que "há doentes no chão em Setúbal"; "doentes de Lisboa a serem transferidos para o Porto" e que Faro está "sem espaço nem enfermeiros". "Podia continuar. Mas Deus nos livre e guarde de pôr o privado à baila, era o que faltava", ironiza, frisando que os enfermeiros estão "fartos de ter razão antes do tempo". Por fim, Ana Rita Cavaco mostra ainda estar em desacordo com a intenção do Governo de avançar para um confinamento geral mantendo as escolas abertas. 

"Ah e não se esqueçam, tranquem-se todos mas deixem as escolas abertas porque os académicos é que sabem. Não, quem lá está mais de 12h por dia e quase morre de desgosto e cansaço não sabe nada!", remata. 

O relatório da situação epidemiológica divulgado este domingo pela Direção-geral de Saúde (DGS) indica que Portugal notificou nas últimas 24 horas mais 7.502 diagnósticos positivos do novo coronavírus, o que representa um aumento de 1,58% em relação ao dia anterior, elevando o número total para 483.689. É terceiro dia em que este registo desce, ainda que possa existir subnotificação ao fim de semana, por causa de encerramento de laboratórios.

No mesmo período, foram registadas mais 102 mortes associadas à Covid-19, sendo a variação de 1.32%. É o terceiro dia consecutivo com um registo diário de óbitos acima de 100. Morreram, desde o início da pandemia em Portugal, 7.803 pessoas por causa do vírus SARS-CoV-2.

Este sábado, depois de concluída a ronda de reuniões com os partidos, o Governo confirmou existir um "consenso" sobre a necessidade de o país voltar a um confinamento geral, uma possibilidade adiantada pelo ministro da Economia na sexta-feira. No mesmo sentido, o Presidente da República afirmou este sábado, no debate com Ana Gomes na RTP, que não há alternativa ao confinamento geral. A Assembleia da República discute e vota o próximo Estado de Emergência na quarta-feira, devendo o Governo aprovar as novas medidas na quinta-feira, de acordo com o noticiado hoje pelo Público. 

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