A Guarda Nacional Republicana (GNR) emitiu esta segunda-feira um comunicado na sequência da realização do polémico jantar/comício do Chega, em Braga.
No comunicado, a GNR confirma ter acompanhado a realização do evento "procurando, nomeadamente, acautelar a manutenção da ordem pública, o que veio a ocorrer".
No final do comício "apurou-se a participação de cerca de 170 pessoas, onde foram servidas refeições, tendo como tal o proprietário do estabelecimento sido identificado por forma a ser elaborado o respetivo expediente e envio para Ministério Público do Tribunal Judicial de Braga, para apuramento de eventuais ilícitos que se possam ter verificado", pode ler-se na nota.
De sublinhar que o jantar decorreu em pleno confinamento geral, numa altura em que o país enfrenta a pior fase da pandemia, com números de novos casos, internamentos e mortes a atingir recordes dia após dia. O Governo está hoje reunido em Conselho de Ministros extraordinário, sendo de esperar um endurecimento das restrições.
Insultos e ameaças a jornalistas
Este evento do Chega em Braga ficou marcado por insultos vários, ameaças de violência e até contacto físico com operadores de câmara que antecederam o momento em que foi, finalmente, permitida a entrada da comunicação social no repleto salão do restaurante, cerca de duas horas depois do previsto.
"Pouco importa, pouco importa/se eles falam bem ou mal/queremos o André Ventura/Presidente de Portugal", entoaram, com gestos típicos de claque de futebol, enquanto os "cameramen" e repórteres instalavam os seus tripés ou gravadores.
Durante a sua breve intervenção, a anteceder o líder do partido da extrema-direita parlamentar, o diretor de campanha e mandatário nacional, além de membro da direção nacional do Chega, Rui Paulo Sousa afirmou: "Os nossos adversários estão lá fora, mas alguns estão cá dentro...", motivando mais gestos ameaçadores dos apoiantes na direção da comunicação social.
"É com orgulho que eu digo chega/É com respeito que me vês/E bate forte cá no meu peito/E é por ti que eu canto, André/Ale, ale, Ventura, Ale/Ale, ale, Ventura, Ale/Ale, ale, Ventura, Ale", era outra das "letras" reproduzidas em papel e colocadas em todas as mesas para que os cânticos saíssem mais afinados.
A distrital de Braga do Chega inclui concelhias como Guimarães, Vila Nova de Famalicão, Barcelos, entre outras. A "plateia" do comício era formada quase na sua totalidade por homens.
"Todos os eventos que estamos a realizar são feitos através das distritais, que contactam a Direção-Geral de Saúde [DGS], com os dados e o cumprimento de todas as regras de distanciamento, das mesas e dos lugares nas mesas", garantira antes Rui Paulo Sousa.
Com as cerca de 170 pessoas distribuídas em mesas redondas para um jantar de apoio em Braga, esta foi a maior iniciativa num espaço fechado desde o início do período de campanha oficial (10 de janeiro), uma vez que todos os comícios anteriores tiveram lugar em espaços com plateias devidamente preparadas para guardar a distância sanitária ou refeições coletivas apenas com algumas dezenas de participantes.
Apesar do "dever geral de recolhimento domiciliário" e num dia em que Portugal perdeu mais 152 pessoas para a covid-19, Rui Paulo Sousa argumentou que o evento é "um comício político que, pela lei, é permitido".
O concorrente ao Palácio de Belém, André Ventura, nas suas ações de campanha eleitoral, tem criticado fortemente o Executivo liderado por António Costa por aquilo que considera ser incompetência e falta de planeamento no combate às novas vagas da crise pandémica.
Segundo a RTP, a Autoridade Nacional de Proteção Civil tinha dado um parecer negativo ao evento que foi depois confirmado pelo delegado a Administração Regional de Saúde do Norte, mas o Agrupamento de Centros de Saúde de Braga só já durante o dia terá tido conhecimento do documento, tal como a Guarda Nacional Republicana.
Domingo, o espaço escolhido pelo Chega foi um grande estabelecimento de restauração, especializado em eventos como casamentos e batizados, entre outros, no lugar de Tebosa, arredores de Braga.
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