É um cenário que tem vindo a acentuar-se nos últimos dias. Vários hospitais da região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) estão atualmente em situação de rutura, "sendo incapazes de assegurar o adequado atendimento de doentes Covid e não Covid em tempo útil", alerta hoje o Sindicato dos Médicos da Zona Sul, que descreve um cenário em que já falta o essencial.
"A falta de meios humanos, de camas e até de oxigénio tem levado à acumulação dos doentes em maca, à porta dos hospitais e nas ambulâncias", retrata.
Uma situação que decorre do grande aumento de casos de infeção por SARS-CoV-2 nas últimas semanas.
O sindicato diz ter conhecimento de que vários hospitais não conseguem fornecer oxigénio com a adequada pressão aos doentes, "problema que tende a agravar-se nos próximos dias."
Mais. Devido à falta de meios, em várias unidades, "os critérios para atendimento e internamento tornaram-se mais restritivos, deixando de fora muitos doentes com dificuldade respiratória e com estados clínicos potencialmente em agravamento", alertam, reforçando o 'Grito de alerta pelos doentes' feito ontem pela Ordem dos Médicos e o gabinete de crise para a Covid.
A pressão é sentida também fora dos hospitais. Segundo o sindicato, nos centros de saúde verifica-se também uma grande dificuldade em assegurar o atendimento de doentes Covid e o habitual acompanhamento de doentes não Covid. "Com os médicos de família quase exclusivamente alocados a tarefas de rastreio de contactos e de Trace COVID-19, os utentes que recorrem aos centros de saúde acabam por ter de ser enviados para os hospitais, o que contribui para o congestionamento", descrevem.
Apesar da "evidente pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde", critica o sindicato, o Governo continua sem fazer uma adequada gestão dos recursos disponíveis, não só no SNS, mas também dos setores privado e social.
"Os médicos estão em exaustão devido à atual exigência e sobreposta a um esforço que já dura há 10 meses", lembra o SMZS, sublinhando que, em vários hospitais, estão a ser mobilizados, para o atendimento a doentes Covid, médicos de todas as especialidades, incluindo cirurgia, ortopedia, anatomia patológica, pediatria e psiquiatria, "o que aumenta a possibilidade de erro e compromete a qualidade dos cuidados prestados".
Perante a situação de rutura, "o SMZS aconselha todos os médicos a entregarem minutas de escusa de responsabilidade para que as administrações, e o próprio Ministério da Saúde, se consciencializem dos graves erros que estão a ser cometidos na gestão da pandemia".
Fazendo um apelo nacional para que sejam cumpridas as normas que evitam o contágio, o SMZS "exorta o Governo para que reforce os meios de resposta à pandemia, não só nos serviços públicos, mas também requisitando a capacidade instalada dos serviços privados e do setor social, que nesta fase se revela comprovadamente indispensável".
Por fim, o sindicato responsabiliza a Ministra da Saúde, o Governo e o Presidente da República pela "falta incompreensível e inaceitável do adequado planeamento da resposta a uma pandemia que dura há vários meses e em que estava anunciado o cenário de agravamento", e pelo alívio das medidas de contenção durante o Natal, "que está na base do elevado número de mortes e na situação de rutura dos serviços de saúde a que estamos a assistir".
Portugal, que é agora o país do mundo com mais novos contágios por milhão de habitantes, registou esta segunda-feira o dia com mais mortes por Covid-19 (167) desde o início da pandemia.
Perante o agravamento da situação pandémica, o Governo decidiu endurecer as medidas apenas três dias depois do arranque do confinamento geral. Vendas ao postigo passam a ser proibidas, a circulação entre concelhos aos fins de semana também. Adicionalmente, todos os estabelecimentos passarão a encerrar às 20 horas durante a semana e às 13 horas ao fim de semana (exceção aqui feita aos supermercados que podem funcionar até às 17 horas ao sábado e ao domingo). Recorde todas as regras aqui.
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