Em 16 de março do ano passado, alunos e professores foram obrigados a trocar as salas de aula pelas suas casas, no primeiro dia daquilo que seriam mais de três meses de ensino a distância, para conter a pandemia de covid-19.
Na segunda-feira, quase um ano depois, as escolas regressam a esse regime e apesar de a experiência do passado ter ensinado muita coisa sobre a nova forma de ensinar e aprender, os diretores reconhecem que nem todos os problemas estão ultrapassados.
"Na primeira vez foi complicado, porque as escolas não estavam preparadas. Foi de uma sexta-feira para uma segunda-feira", recordou, em declarações à Lusa, o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira.
Entre esse primeiro dia, em março de 2020, e o novo regresso ao ensino à distância na segunda-feira, os professores aprenderam a trabalhar com as novas tecnologias, o Ministério da Educação criou o programa #EstudoEmCasa, com aulas transmitidas na televisão, e há mais alunos com computador e acesso à Internet, alguns graças ao Governo, outros graças às autarquias e às escolas.
Hoje, as escolas, os professores e as famílias estão mais bem preparados, mas também estarão mais preocupados devido à experiência anterior.
"No ano passado ninguém sabia o futuro próximo e toda a gente achava que o problema se iria resolver rapidamente. Agora temos um ano de experiência de pandemia, e essa experiência permite-nos perceber que isto será um grande problema para toda a gente", admitiu.
Segundo Manuel Pereira, esse "grande problema" decorre da soma de vários "pequenos problemas" que não foram resolvidos: muitos alunos continuam a não ter equipamentos para assistir às aulas 'online', muitos continuam a viver em contextos socioeconómicos desfavorecidos e as crianças, em particular, continuam a ser muito dependentes.
"Há mais angústia, ou realismo, por parte dos pais e, especialmente, dos professores, porque todos nós percebemos o que se perdeu no ano passado com o ensino a distância e todos nós sabemos que ainda há uma franja de alunos que não têm as condições necessárias para poder ter um ensino de qualidade a distância", afirmou.
Também Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas (ANDAEP), refere os mesmos constrangimentos, acrescentando, por outro lado, que no ano passado as escolas, autarquias e sociedade civil desenvolver esforços minimizar esses problemas, que vão manter agora.
Referindo o exemplo do agrupamento que dirige, em Vila Nova de Gaia, à semelhança do ano passado, os alunos que não conseguirem aceder às aulas 'online' vão receber em casa fichas de trabalho, que serão entregues por funcionários da autarquia.
"Vamos ter uma espécie de vaivém, em que o funcionário da câmara vem à escola buscar os exercícios, entrega em casa do aluno, que lhe devolve o trabalho feito no dia anterior e depois nós enviamos aos professores", descreveu.
Mas, além da dificuldade em aceder às aulas 'online' por falta de equipamentos, Filinto Lima considera que há outros problemas tão ou mais importantes.
"Eu estou preocupado com os computadores, claro, porque são essenciais para este tipo de ensino, mas está-me a preocupar muito a questão das condições que os alunos não têm em casa. Parece que se o aluno tiver computador, tem condições de trabalho. Alguns têm, outros não", sublinhou.
As escolas sabem desde o ano passado quem são esses alunos e vão tentar reforçar, tanto quanto possível, o seu acompanhamento. Uma alternativa que Manuel Pereira espera ser possível são as escolas de referência que se mantém abertas para receber os filhos de trabalhadores essenciais.
As escolas encerraram as portas há cerca de duas semanas e as crianças e jovens, desde creches ao ensino superior, ficaram em casa, numa pausa letiva que terminou na sexta-feira.
Na segunda-feira, cerca de 1,2 milhões de alunos do 1.º ao 12.º ano voltam a ter aulas à distância, à semelhança do que aconteceu no passado ano letivo.