A equipa médica alemã que veio ajudar Portugal no combate à pandemia da Covid-19 deu, esta segunda-feira, a sua primeira conferência de imprensa após chegar ao nosso país, na semana passada.
O ponto de situação foi feito a partir do Hospital da Luz, em Lisboa, onde os mais de duas dezenas de profissionais de saúde alemães se encontram já a trabalhar, e começou com a intervenção do coordenador da Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para a Covid-19, João Gouveia.
O responsável português começou por recordar que "estamos, neste momento, numa fase difícil, com muitos doentes hospitalizados, com números ainda preocupantes", e por agradecer a todos os profissionais de saúde que têm estado na linha da frente na luta contra o SARS-CoV-2 e a toda a ajuda internacional que tem sido oferecida. Contudo, sublinhou que esta é apenas para ser usada como último recurso.
"Temos de planear para o pior e esperar o melhor. Agradecemos toda a ajuda que nos seja oferecida e estudamos todas as hipóteses para o caso de a usarmos se for necessário. Há várias propostas em termos de ajuda internacional que não são a solução, são uma ajuda de último recurso", defendeu.
Já o chefe da equipa dos médicos alemães agradeceu as excelentes condições que lhes foram dadas para trabalhar e aos "extremamente educados" portugueses, antes de frisar que o objetivo desta ajuda é salvar vidas.
"Agradeço a cooperação do Ministério da Saúde de Portugal e agradeço ao Hospital da Luz pelas melhores condições que já vi, não podiam mesmo ser melhores. Somos reconhecidos na rua, os portugueses são extremamente educados. Temos apenas um objetivo: salvar vidas e é nisso que estamos concentrados", afirmou o profissional de saúde alemão.
"Objetivo é ficar três semanas, mas pode ser preciso mais tempo"
Questionado sobre a duração desta ajuda, o chefe da equipa dos médicos alemães referiu que a previsão é de três semanas, mas que, provavelmente, vão ter de prolongar a estadia, devido ao estado que se encontra a crise sanitária em Portugal.
"Estamos certos de que é preciso mais e mais. O objetivo é ficar três semanas, mas imaginamos que seja preciso ficar mais tempo e trazer uma segunda equipa", explicou.
Alívio de medidas? "Temos de aprender com os erros do passado"
Já sobre o alívio de medidas, depois de o número de novos casos de infeção ter começado a baixar, foi João Gouveia a responder. O coordenador da Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para a Covid-19 esclareceu que atenuar as regras do Estado de Emergência só é aconselhável quando o país tiver menos de três mil casos diários às quartas e quintas-feiras, pelo menos durante duas ou três semanas seguidas, com RT inferior a 0,7 e com menos de 270 doentes internados em medicina intensiva.
"Estou um bocadinho mais otimista, mas continuo a estar preocupado. Parece haver, na verdade, uma inflexão em termos de RT e número de internamentos, mas temos de aprender com os erros do passado. É o que diferencia as pessoas inteligentes das outras", clarificou, acrescentando que, "pelo menos até meados de abril devemos precisar da capacidade de medicina intensiva o mais esticada que pudermos".
"Não consigo prever como serão as próximas semanas"
Na conferência de imprensa de hoje interveio também uma médica alemã, que se encontra a trabalhar na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital da Luz.
A profissional de saúde revelou que a equipa alemã está a cuidar de doentes que vão precisar durante dias ou até semanas de ventilação e que, por isso, não é possível prever como decorrerão os próximos dias.
"Não consigo prever como serão as próximas semanas. Vai demorar alguns dias para começarmos a receber mais pacientes de hospitais públicos aqui no Hospital da Luz. Os doentes estão estáveis, mas com uma condição severa", afirmou.
Recorde-se que, a semana passada, chegaram a Portugal 26 profissionais de saúde alemães, entre os quais seis médicos, para ajudarem os hospitais portugueses no combate à pandemia da Covid-19. Além de ajudarem com meios humanos, a Alemanha disponibilizou ao nosso país 40 ventiladores móveis e 10 estacionários, assim como 150 bombas de infusão e várias camas hospitalares.
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