"Estamos muito perto do total da expansão da Medicina Intensiva. Nós conseguimos expandir 200 camas, ainda existem mais camas que podemos expandir, mas já estamos praticamente (no limite) em todos os blocos operatórios, em todos os recobros, em quase todos os hospitais, portanto a capacidade já é diminuta e não só por espaço mas sobretudo por recursos humanos, e os recursos humanos que nos fazem falta são intensivistas e principalmente enfermagem", disse João Gouveia, durante uma conferencia de imprensa no Hospital da Luz, em Lisboa, com a presença da equipa militar alemã que começou hoje a trabalhar naquele hospital.
De acordo com o responsável pela Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para a COVID-19, há neste momento cerca 1.250 camas no Serviço Nacional de Saúde, mais as do privado, e todos os dias se conseguem "acrescentar mais algumas", mas João Gouveia sublinha que só se poderá respirar de alívio quando os blocos operatório e os recobros estiverem desocupados, quando houver menos de três mil casos diários às quartas e quintas-feiras durante duas ou três semanas seguidas, menos de 270 doentes internados em medicina intensiva e os profissionais de saúde a trabalhar normalmente.
Apesar disso, João Gouveia afirma estar convencido de que com a resposta que se conseguiu montar não vai ser necessário enviar doentes para o estrangeiro.
"Acho que é um esforço gigantesco do sistema de saúde português público e privado para aumentar a capacidade de resposta e com isso espero não ser necessário recorrer a essas ajudas", frisou, mas admitiu que todas as ofertas de ajuda estão a ser estudadas para o caso de virem a ser necessárias.
Os doentes que vão ser tratados pela equipa alemã no Hospital da Luz serão provenientes de hospitais da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, tendo até ao momento sido transferido um doente crítico do Hospital Garcia de Orta, em Almada.
Simultaneamente, há dois que estão a ser avaliados para saber se estão em condições de poder ser transferidos -- um do Hospital de Cascais e outro do Hospital do Barreiro - porque nem todos são transportáveis, acrescentou.
Quanto ao tempo que será necessário manter a equipa alemã em Portugal a ajudar, o responsável afirmou que durante a missão de reconhecimento apontou o final de abril como data previsível, mas agora admite poder ter-se enganado, já que "os números estão a descer mais depressa".
Mesmo assim, João Gouveia considera que "pelo menos até meados de abril" a capacidade de medicina intensiva deve estar o mais esticada que for possível.
O coronel Jens-Peter Evers, líder da equipa alemã em Portugal afirmou, por sua vez, que "é absolutamente necessário" ficarem "o máximo de tempo possível".
Os médicos alemães, que chegaram na quarta-feira e começaram hoje a trabalhar, deverão permanecer durante três semanas, estando prevista depois a sua substituição por novas equipas a cada 21 dias, pelo menos até final de março, caso seja necessário.
Falando sobre as condições de trabalho da equipa, o médico-chefe afirmou ter sido uma surpresa, porque foi "perfeito" o que encontraram: "encontrámos as melhores condições, não esperávamos ter tão boas condições, não podia ser melhor".
Jens-Peter Evers faz um balanço muito positivo da estada em Portugal, contando que até a sociedade civil dá mostras da sua simpatia e gratidão, quando lhe acena ou buzina nos carros ao cruzarem-se com eles.
No entanto sublinha que o objetivo destes médicos e enfermeiros em Portugal é um só, salvar o máximo de vidas possível e ganhar mais experiência.
No Hospital da Luz apenas a equipa alemã é responsável pela Unidade de Cuidados Intensivos, esclareceu o médico alemão, adiantando que podem ter alguma ajuda de profissionais portugueses para fazer tradução ou para auxiliar em exames, por exemplo.
"Mas só a equipa alemã é que vai estar a trabalhar dia e noite", disse.
A ajuda que chegou a Portugal é composta por oito médicos militares especialistas em cuidados intensivos e 18 enfermeiros com a mesma especialidade.
Questionado sobre que avaliação faz sobre o que o Governo português poderá ter feito de errado na condução das políticas de saúde para combater a pandemia, Jens-Peter Evers afirmou ter "a certeza de que não fez nada de mal e que o Governo alemão não fez nada melhor", que o tratamento é o mesmo e o problema é o vírus.
"Somos amigos europeus, é nossa função ajudar, esta é a forma de eu ver a cooperação", acrescentou.
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