Janeiro foi "o maior desastre de saúde pública dos últimos 100 anos"
O epidemiologista Manuel Carmo Gomes defendeu na terça-feira, em entrevista, à RTP que janeiro foi um mês fora do normal, tecendo algumas críticas à "consistência" das estratégias adotadas. O especialista, porém, nega ter saído do painel de peritos do Infarmed por discordância com o Governo.
© Pedro Nunes/Reuters
País Manuel Carmo Gomes
Manuel Carmo Gomes explicou esta terça-feira à noite que anúncio da sua saída do painel de peritos que faz o ponto da situação da Covid-19 no Infarmed foi apenas coincidente com a sua tentativa de discutir a estratégia de combate à pandemia.
"Eu estou na Comissão Técnica de Vacinação, também, e a Comissão Técnica é bastante exigente em termos de trabalho, nós temos reuniões três, quatro vezes por semana. O volume de literatura que neste momento está a sair sobre resposta às vacinas, eficácia, etc., é muito elevado. Portanto, eu tenho dificuldade em acompanhar a epidemiologia (...) e simultaneamente a Comissão Técnica de Vacinação", explicou o especialista, em entrevista à RTP. "Houve uma coincidência entre a necessidade de lançar à discussão a nossa estratégia com a saída", acrescentou.
Sobre a situação da pandemia no país, Manuel Carmo Gomes não tem dúvidas que "janeiro não foi um mês qualquer". "Foi o maior desastre de saúde pública que ocorreu em Portugal nos últimos 100 anos", lamentou.
Sublinhando que se atravessa um momento em que "parece que estamos a conseguir controlar a epidemia, porque estamos todos confinados", o especialista apelou a cuidado redobrado. "Eu, pelo menos, como epidemiologista, sinto a obrigação de dar um passo atrás, refletir sobre aquilo que fizemos e foi um pouco isso que eu fui lá fazer. Perguntar a nós todos, e a mim, também se é isso que nós queremos para o futuro", afirmou, referindo-se à última reunião do Infarmed.
Sobre as estratégias adotadas pelo Governo: "A estratégia adotada, em si, é consistente, porque foi repetitiva desde maio". O epidemiologista não criticou abertamente as opções tomadas, mas foi claro em assumir que "deu origem aquilo que nós estamos a assistir" e que, portanto, é preciso fazer "um reflexão" sobre tomar "posições gradualistas à medida que vamos tendo conhecimento do evoluir da pandemia".
"Temos que nos pôr de acordo sobre quais são as linhas vermelhas e enquanto não estivermos abaixo dessas linhas vermelhas, no meu entender, não podemos desconfinar", disse, referindo-se, por exemplo, às taxas de positividade dos testes e à incidência de casos.
"As linhas vermelhas tanto servem para entrarmos em confinamento como para não entrarmos", explicou, defendendo que, nesta altura, o confinamento deve ser mantido. "Senão, caímos no mesmo erro", sentenciou.
A ministra da Saúde, Marta Temido, está nesta altura a ser ouvida na audição regimental da Comissão Parlamentar de Saúde, onde, mais tarde, também será ouvida a Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19. Pode acompanhar a audição em direto aqui.
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