"A China não é a nova União Soviética. É uma potência emergente que tem vindo a afirmar-se no plano internacional com grande pujança e representa uma variedade de desafios, no plano económico, no plano dos desafios globais (pandemia de covid-19 e alterações climáticas)", disse João Gomes Cravinho, após questionado sobre o posicionamento de Portugal relativamente à China, no plano geoestratégico e de Defesa.
O ministro destacou os investimentos que estão a ser feitos pela China no desenvolvimento de "uma marinha de guerra" que "daqui a alguns anos, de acordo com as projeções, será maior que a dos Estados Unidos".
Segundo o responsável governamental, "a China tem de ser vista com toda a sua complexidade" e, "em algumas matérias", há que ter "proximidade e parceria, em outras é mais apropriado ter distância e cautela" quer a nível nacional, quer a nível das União Europeia.
O ministro da Defesa reiterou que Portugal tem vocação atlântica e ao mesmo tempo "não tem dúvidas sobre a inserção na União Europeia", rejeitando qualquer "competição" entre União Europeia e a Nato.
"Basta olhar por esta janela para ver onde nos situamos. Estamos aqui na boca do [rio] Tejo e temos o [Oceano] Atlântico, parte da nossa História e do nosso futuro, de maneira muito vincada. Temos responsabilidades tremendas em matéria marítima. Não faria sentido que não fossemos também um país transatlântista. Ao mesmo tempo, não temos qualquer dúvida quanto à nossa inserção na União Europeia", definiu Gomes Cravinho, entrevistado no seu gabinete no ministério da Defesa, no Restelo, Lisboa, com vista para o Tejo.
O ministro da Defesa defendeu a "complementariedade" entre as instituições União Europeia e Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), registando uma "evolução" nas posições de vários países europeus nestas matérias.
"Houve grande evolução, nos dois anos e pouco como ministro da Defesa Nacional. Havia muita desconfiança de um número significativo de estados-membros quanto à noção de desenvolvimento de um entidade europeia de Defesa. Desconfiança por isso poder minar o compromisso em relação à NATO. Nos últimos meses, ultrapassou-se essa desconfiança, com a pandemia e as ameaças híbridas (como ciberataques ou campanhas de desinformação, por exemplo)", descreveu.
Para Gomes Cravinho, "a NATO é a mais poderosa aliança militar alguma vez constituída" e, "numa lógica de defesa militar, não há melhor e é muito positivo que Portugal esteja inserido na NATO".
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