João Gomes Cravinho referia-se à polémica gerada com a recente morte por covid-19 do tenente-coronel Marcelino da Mata, o militar mais condecorado do Exército, após interpelação por parte do deputado do PSD Paulo Moniz, durante a audição regimental da respetiva comissão parlamentar.
"Nessa guerra, houve centenas de milhares de vítimas, desde logo toda uma geração de antigos combatentes que foram enviados para uma guerra em que não acreditavam, alguns dos quais, infelizmente, não regressaram. Esses, são todos heróis e são todos vítimas", afirmou.
Para o responsável pela tutela, "a sociedade faz bem em pensar e refletir sobre o passado", mas ao responsável ministerial, com "responsabilidades institucionais diferentes das do cidadão que não está em funções" não compete "acicatar ânimos" ou "tomar partido em matéria de controvérsias salutares em democracia".
"Como ministro de um país democrático, em 2021, tenho responsabilidade absoluta por zelar para que não se cometam quaisquer ilegalidades nas nossas Forças Armadas e que o respeito pelos Direitos Humanos seja absolutamente primordial. Durante a ditadura colonial, não havia essa preocupação. Houve uma guerra injusta, anacrónica", continuou, acrescentando que há que "olhar e compreender a História de Portugal nas suas partes mais luminosas e mais sombrias".
Marcelino da Mata, que tinha 80 anos, serviu em mais de 2.000 operações no difícil teatro de operações da sua Guiné-Bissau natal e eram-lhe atribuídas muitas ações para lá da violência inerente à guerra.
No pós-25 de Abril de 1974, foi detido e torturado por elementos da extrema-esquerda, exilando-se em seguida em Espanha até ao contragolpe do 25 de Novembro de 1975 (que acabou com o Processo Revolucionário Em Curso).
O comando luso tinha sido armado cavaleiro da "Antiga e Muito Nobre Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito", em 1969, e subiu sucessivamente de patente, desde soldado a major, reformando-se em 1980. Em 1994, foi promovido a tenente-coronel.