Burlas no OLX via MB Way. "Em 10 minutos recebi seis chamadas suspeitas"
Tentativas de fraudes nos sites de comércio online cresceram durante os confinamentos. Em pouco mais de um ano, o OLX recebeu 2.300 denúncias. O truque para não ser enganado é cumprir todas as recomendações de segurança.
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País Burlas
As compras online dispararam durante os confinamentos. Também por isso, como têm vindo a alertar as autoridades, os esquemas relacionados com sites de vendas ou troca de artigos, e de transações por MB Way aumentaram durante o último ano, enquanto o mundo lutava contra a pandemia da Covid-19.
Basta fazer uma pequena pesquisa nas redes sociais, ou mesmo no YouTube, para perceber que muitas foram as pessoas abordadas por estes burlões, que têm tanto de insistentes como de amadores.
Felizmente, a maioria das tentativas de fraude saem agora frustradas devido ao aumento da literacia digital e às campanhas de sensibilização promovidas, não só pelas autoridades como pelas empresas utilizadas pelos criminosos para o engenho.
No entanto, nas últimas semanas, chegaram ao Notícias ao Minuto várias denúncias de investidas. Filipe Raposo é um desses casos. No passado mês de fevereiro colocou dois anúncios online. Em poucos minutos, recebeu seis chamadas suspeitas. Uma das quais gravou e publicou nas redes sociais, de forma a alertar os amigos (e não só) para este tipo de burlas.
“Foi realmente impressionante. Coloquei dois anúncios no OLX e, em cerca de 10 minutos, recebi seis chamadas de números diferentes. Só consegui falar com dois deles, mas estes eram, claramente, burlões”, começa por contar o empresário ao Notícias ao Minuto.
O primeiro burlão nem tentou negociar o preço. “Parece-me bem o frigorífico… podemos ir buscar na segunda-feira”, perguntou, ao que Filipe respondeu que sim, apesar de já estar desconfiado com o que viria a seguir.
“’Podemos pagar por MB Way?’, perguntaram-me, ao que respondi novamente que sim. De seguida, pediu-me para ir ao multibanco para fazerem o pagamento. Imediatamente, perguntei porquê e se estavam a tentar enganar-me, pois o MB Way não funciona assim. Ao que a pessoa respondeu, num tom chateado, ‘já não quero fazer negócio consigo’ e desligou”, relata.
Já certo do que aí vinha, Filipe decidiu gravar a chamada seguinte (à qual pode assistir abaixo). “Fiz-me de leigo e tentei perceber mais a fundo o que é que eles queriam. Nem sabiam onde é que eu estava [para ir buscar o frigorífico]”, recorda.
Apesar da revolta, Filipe não denunciou ao OLX, nem à SIBS (empresa detentora do MB Way) nem às autoridades as tentativas de burla. Em 2018, um amigo do pai foi vítima de uma destas fraudes e nunca recebeu resposta por parte da “empresa que geria as referências multibanco”, apesar de ter enviado um e-mail com um “print da transação e tudo”.
Perante este silêncio, o empresário preferiu deixar o alerta nas redes sociais. O que não estava à espera, quando publicou a gravação da chamada no Facebook, é que muitos dos amigos relatassem também já terem sido vítimas destas investidas.
Questionado sobre o que deveria ser feito para garantir uma maior segurança dos utilizadores do comércio eletrónico, Filipe defende que estes sites “podiam ter uma forma de classificar tanto os vendedores, como os compradores, como já se faz em muitos sites internacionais”. Além disso, “é importante a sensibilização junto dos utilizadores menos experientes”, acrescenta, já sobre as transações.
Apesar destes constrangimentos, Filipe assume que usa o MB Way com muita frequência. “É uma excelente ferramenta. Tenho uma empresa na área de tecnologias de informação, a AcoresPro, e recomendo aos meus clientes a utilização tanto do MB Way, como da referência multibanco. Ambos são métodos práticos, convenientes e seguros”, garante.
Tal como vários youtubers portugueses já explicaram, os trapaceiros atuam de diversas formas, mas têm preferência por dois métodos. Dão uma referência multibanco para pagar algo que têm em dívida ou, e ainda mais frequente, dão um código para introduzir no multibanco que faz com que o cartão bancário da vítima fique associado ao número de telefone do burlão, de forma a que estes possam levantar todo o dinheiro que quiserem.
2.300 denúncias de tentativas (ou concretização) de burlas
Ao Notícias ao Minuto, David da Costa Mota, Head Of Operations OLX Portugal, admitiu ter conhecimento deste tipo de esquemas e que os utilizadores do OLX têm reportado com mais regularidade este tipo de burlas. De janeiro de 2020 até dia 3 de março de 2021, 2.300 pessoas denunciaram tentativas de burlas ou concretização das mesmas ao OLX.
Contudo, o responsável garante que, “devido a melhorias na plataforma do MB Way e também a várias ações de sensibilização do OLX”, este tipo de burlas tem menos sucesso agora, do que no ano passado.
Sobre uma alegada ligação entre o pico de burlas e os meses do Estado de Emergência, David da Costa Mota confirma que “existe uma correlação com o facto de as pessoas estarem mais tempo em casa e passarem mais tempo na internet”.
“A pandemia fez com que houvesse, naturalmente, um aumento do comércio online. Os burlões, percebendo este padrão de comportamento e consumo, procuram explorar todas as oportunidades”, justifica, sublinhando “a importância da união entre todas as plataformas” no aumento da segurança dos consumidores.
Tal como é denunciado pelos utilizadores, o responsável da OLX Portugal revela que o ‘modus operandi’ dos criminosos passa pela partilha de códigos que requisitam aos vendedores dos produtos através dos quais, se o utilizador não estiver consciente de como funciona, é cometida a burla.
Perante isto, tal como reforça David da Costa Mota, nunca é demais reiterar, que os utilizadores do MB Way “não devem partilhar qualquer código com terceiros, pois é como se partilhassem o PIN bancário com outras pessoas”.
Antes de chegarem a este pedido, há vários sinais de alerta aos quais os destinatários das chamadas devem estar atentos. Normalmente, os burlões não negoceiam preços, aceitam logo à partida o valor apresentado. Referem também que será uma transportadora a recolher o artigo, mesmo que este seja de pequena dimensão.
“Outro comportamento notado por nós neste esquema é que os burlões começaram a usar o termo MB Net para fugir ao ‘estigma’ associado ao MB Way, devido à campanha de consciencialização do ano passado”, conta ainda o responsável.
Recentemente, surgiu um outro esquema de fraude, detetado pelo OLX, através de cartões de crédito para utilizadores que não usam o MBWay.
Os burlões sugerem a utilização do cartão de crédito para a receção do pagamento - o que não é possível fazer, pois este cartão apenas funciona para pagamentos e não para receção de dinheiro - , solicitando à vítima que envie uma foto frente e verso do cartão de crédito.
“Isto torna-se ainda mais grave pois demonstra a iliteracia digital que existe em Portugal e que torna o comércio online ainda mais sensível”, alerta David da Costa Mota.
Para garantir a segurança dos utilizadores, o OLX está a promover, desde o ano passado, um conjunto de ações cujo principal objetivo é ensinar e ajudar os cidadãos a realizar compras online em segurança. Entre um curso, a várias campanhas de sensibilização, a empresa tem feito também um “esforço em cooperar com as autoridades de forma muito mais rápida e efetiva no combate ao crime e esta rapidez na nossa parte tem ajudado as autoridades a conseguirem ser mais efetivas no combate ao mesmo”.
Uma outra inovação, que o responsável garante que tem feito “sucesso” é o Sistema de Entregas Online OLX. Além dos negócios serem efetuados de uma forma mais segura, reduziu o contacto físico numa altura em que isto é tão importante.
SIBS atribui culpas a burlões e à “falta de literacia digital”
Já a SIBS, empresa responsável pelo MB Way, recusa a ideia de que o número de burlas pela aplicação tenha aumentado nos últimos meses e, apesar de não revelar dados, devido ao “segredo de justiça”, garante que “o número de novas ocorrências registadas tem sido reduzido nos últimos meses”.
“A informação que dispomos é que o número de novas ocorrências registadas tem sido reduzido, inclusivamente, como apontam vários indicadores públicos. As burlas ou fraudes com serviços legítimos e fidedignos, como é o caso dos serviços da Rede Multibanco e MB Way, são fundamentalmente um problema de segurança pública. (…) Os burlões abusam da utilização indevida destes serviços intrinsecamente seguros”, esclarece a empresa.
Ao Notícias ao Minuto, a SIBS reitera que o MB Way é um serviço “extremamente seguro” e com “enormes mais-valias” e atribuí as culpas não só aos burlões, que “procuram algumas brechas no lado social”, como à “falta de literacia digital” dos utilizadores.
Para combater este desconhecimento, a SIBS garante que tem “reforçado a informação sobre o modo de funcionamento do serviço, assim como as recomendações de utilização segura do mesmo, para que o maior número possível de cidadãos esteja alerta para as situações de burla e não sejam expostos a este tipo de engenharia social”.
“É muito importante que os consumidores tenham em conta que, tal como não podem dar o PIN do cartão bancário, não podem nunca adicionar números de telefone de terceiros ou desconhecidos ao serviço ou partilhar o código de acesso, porque com isso darão a esse desconhecido acesso à sua conta bancária”, alerta a empresa que, no site oficial, dá todas as recomendações para uma utilização segura da aplicação.
Além da estratégia de comunicação, a SIBS garante que todos os serviços têm sistemas de monitorização e deteção de fraude contínua e permanente, com vista a reduzir e/ou identificar a ocorrência de situações criminosas. No início deste ano, Portugal condenou, inclusive, pela primeira vez, uma pessoa a pena de prisão efetiva por crimes relacionados com este tipo de burlas.
Já esta segunda-feira, depois da entrevista com a SIBS, a agência Lusa revelou que um dos cibercrimes que mais denúncias motivaram para o Ministério Público (MP) de Lisboa no ano passado foram as fraudes na utilização da aplicação de pagamentos por MB Way e que este crime atingiu milhares de vítimas com prejuízos incalculáveis.
#NãoSejasPato
Ao longo dos últimos meses têm surgido diversos alertas para ajudar os consumidores a evitarem burlas.
O ano passado, por exemplo, o Portal da Queixa decidiu criar o #NãoSejasPato, em colaboração com o OLX, MB Way, CTT e outras empresas, de forma a ajudar a combater a falta de literacia digital, para que os utilizadores deixem de ser apanhados neste tipo de esquemas.
O site analisa o conhecimento das pessoas, através de um quiz interativo, e dá-lhes ferramentas para se poderem proteger contra este tipo de burlas.
Leia Também: Fraude com MBWAY foi o crime mais denunciado ao MP de Lisboa
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