A mais pequena ilha dos Açores, o Corvo, é o primeiro território em Portugal, mas também a primeira localidade em toda a Europa, a alcançar a tão desejada imunidade de grupo contra o novo coronavírus, depois de ter administrado as duas doses da vacina a mais de 85% de toda a sua população.
"Não conheço nenhuma outra região que tenha implementado um projeto de vacinação em massa como os Açores fizeram", disse Gustavo Tato Borges, presidente da Comissão de Acompanhamento da Pandemia nos Açores, em declarações à RTP.
O responsável destacou o facto de a Associated France Press (AFP) ter estado presente no Corvo, considerando-o como o primeiro território que está a promover uma imunidade de grupo.
Gustavo Tato Borges deu conta, também à estação pública, que os corvinos têm apresentado algumas reações adversas à segunda dose da vacina, desde cansaço, dores musculares e dores de cabeças, mas "coisas leves e nada que preocupe".
O Governo Regional dos Açores decidiu incluir toda a população da ilha do Corvo com mais de 16 anos na primeira fase do plano de vacinação contra a Covid-19, devido às especificidades da ilha, que tem perto de 400 habitantes e um centro de saúde com apenas um médico e dois enfermeiros.
A primeira dose foi administrada a 322 pessoas nos dias 17, 18 e 24 de fevereiro, o equivalente, segundo a Secretaria Regional da Saúde dos Açores, a mais de 95% da população residente no Corvo com mais de 16 anos e a cerca 85% de toda a população da ilha.
Sem entraves colocados pelo mau tempo, tantas vezes habituais no grupo ocidental dos Açores, o segundo lote de vacinas chegou na quarta-feira ao Corvo, num avião em que seguiam também dois enfermeiros da ilha de São Miguel, que dão apoio à operação.
A maioria da população recebeu a segunda dose entre quarta e quinta-feira, mas o processo só ficará concluído na quarta-feira da próxima semana com a vacinação dos últimos 16 habitantes.
"Há um ambiente de alguma festa no Corvo"
"Há um ambiente de alguma festa no Corvo", admitiu à Lusa o único médico da ilha, António Salgado, na quarta-feira.
"A partir de agora sentimo-nos seguros. Já se dizia que o Corvo era uma ilha segura, pelo seu isolamento e por um certo controlo que se foi fazendo da infeção, mas a partir de agora é uma confiança redobrada e uma sensação de segurança redobrada, quer para nós profissionais de saúde e também para a população", acrescentou.
Desde o início da pandemia de Covid-19, a ilha registou apenas um caso de infeção pelo novo coronavírus, diagnosticado, em janeiro, num rastreio realizado aos viajantes.
O utente esteve sempre assintomático e não transmitiu o vírus a outras pessoas, mas o caso contribuiu para convencer os mais indecisos a aderir à vacinação.
"Tivemos algumas resistências de início, algumas dúvidas, mas a situação foi melhorando. Houve também algum trabalho de convencimento, de esclarecimento. Penso que a própria situação da Covid e o que foi acontecendo também fez perceber a importância da vacinação", revelou António Salgado.
Para o médico era "quase impossível" conseguir uma adesão maior à que foi registada no Corvo e os números permitem garantir a tão almejada imunidade de grupo, ainda que não se saiba por quanto tempo.
"O Corvo seria um bom local para quem se interessa por essas coisas poder avaliar até que ponto é consistente esta imunidade. Estamos disponíveis para essa colaboração com quem entender que pode fazer algum estudo", salientou.
Em todo o arquipélago dos Açores já foram administradas 29 mil doses da vacina contra o novo coronavírus.
Leia Também: AO MINUTO: Alemanha reabre portas a Portugal. OMS dá ok a mais uma vacina