O Arcebispo de Braga defendeu, esta segunda-feira, na RTP 3, uma posição mais firme da parte do Governo português em Moçambique.
De acordo com D. Jorge Ortiga, a intervenção militar, que está a ser equacionada por vários países, entre os quais pela África do Sul, já devia ter acontecido há mais tempo.
"A situação é de catástrofe. Estou muito preocupado com a situação e penso que já devia ter acontecido há mais tempo uma intervenção militar. O problema não é novo. Este ataque à cidade de Palma tem um dramatismo particular e penso que a humanidade inteira está a tomar consciência do que se passa", começou por salientar o arcebispo, acrescentando que a Igreja Católica há muito que chamava a atenção para a violência em Cabo Delgado.
"O Papa já levantou a sua voz há muito tempo e o bispo da diocese, D. Luiz Fernando Lisboa, até teve de deixar a diocese por ter sido a voz daqueles que estavam a ser desalojados e que estavam a ficar sem as suas terras", lembrou D. Jorge Ortiga, aproveitando para questionar o porquê de Moçambique não aceitar ajuda e de os países ainda não terem intervindo.
"Não creio que esta luta seja religiosa, pode ser, mas creio que é mais por interesses económicos, não sei de quem. O que é certo é que as pessoas estão a morrer, estão a afastar-se do ambiente onde cresceram e onde têm os meios de subsistência (...). O assunto já foi abordado, agora eu pergunto porque é que ainda não foi resolvido? Existem interesses? Que sejam desmascarados e que o povo não seja sacrificado", pediu, admitindo que "é difícil, quase impossível, entrar nos meandros da situação"
Já sobre a segurança dos missionários portugueses em Moçambique, o Arcebispo de Braga garantiu que estes estão numa zona "afastada desta região" e que a Igreja está é preocupada, neste momento, com o povo de Cabo Delgado.
Há cerca de três anos, que Cabo Delgado é palco de violência. Os militantes do grupo jihadista islâmico Al-Sabaad são os responsáveis por este cenário aterrorizante. São milhares os mortos, os feridos e os refugiados e, nos últimos dias, a hostilidade subiu ainda mais de tom.
Os terroristas entraram em Palma e queimaram várias aldeias. Pelo caminho, decapitaram habitantes e feriram trabalhadores de projetos de exploração de gás na região.
O objetivo é assumir o controlo da vila de Palma, localizada apenas a 10 quilómetros do centro nevrálgico do megaprojeto de gás natural, que representa um dos maiores investimentos de África e é liderado pelo grupo francês de energia Total.
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