Após ter sido noticiado, esta terça-feira, que poderá ter sido confirmada a relação entre vacina da AstraZeneca e trombose, Miguel Prudêncio, investigador principal do Instituto de Medicina Molecular, recordou que, neste momento, a Agência Europeia do Medicamento (EMA) está a realizar uma análise sobre a relação risco-benefício da vacina em causa.
"Se for necessário fazer ajustes para diminuir o risco e manter o benefício, então, podemos estar seguros de que é isso que vai acontecer", defendeu o especialista, esta noite, em entrevista à RTP3.
Para Miguel Prudêncio, é essencial que se perceba que, após terem sido vacinados cerca de 18 milhões de pessoas no mundo com a AstraZeneca, foram evitadas muitas "mortes ou complicações muito graves de saúde". "É algo que não podemos esquecer", acrescentou.
O investigador sublinhou também que a EMA está a fazer uma reflexão, "caso a caso", estando na sua posse "todos os dados clínicos de todas as pessoas em que estas ocorrências foram registadas", o que poderá levar a agência a perceber "se havia condições pré-existentes ou não" nas pessoas que sofreram tromboses.
"Desta análise pode resultar uma de duas coisas: Ou a EMA considera que continua a não ter dados suficientes para retirar uma conclusão definitiva - que foi aquilo que agência disse há cerca de três semanas - ou pode ficar efetivamente comprovado que essa causalidade existe e que está restrita, por exemplo, a um determinado grupo etário da população", conjeturou.
Caso haja algum risco para um grupo populacional específico, referiu ainda Miguel Prudêncio, poderá haver "um ajuste das normas da administração da vacina que garanta que esse grupo está protegido".
Ainda assim, sublinhando que esta tese é, por enquanto, mera especulação, o cientista vincou que "o que está a acontecer agora é uma coisa normal em qualquer medicamento ou vacina". "Chama-se a isso processo de farmacovigilância", esclareceu, acrescentando que é comum, por vezes, só se descobrirem efeitos secundários raros durante a monitorização de um fármaco.
Marco Cavaleri, responsável pela estratégia de vacinação da EMA, confirmou, esta terça-feira, ao jornal italiano Il Messaggero, que há "uma ligação" entre a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca e a ocorrência de coágulos sanguíneos em pessoas vacinadas".
A reunião do Comité de Avaliação dos Riscos em Farmacovigilância da EMA, que conta com representantes do Infarmed, começou hoje e deve prolongar-se até sexta-feira. A EMA adiantou também à agência AFP que "ainda não chegou a uma conclusão e a revisão está atualmente em curso".
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