'Só agora começou' é o título do novo livro de José Sócrates. O antigo primeiro-ministro esperou até à divulgação da decisão instrutória do processo da Operação Marquês para publicar a obra, na qual tenta demonstrar a sua inocência no caso judicial, ataca o jornalismo e a justiça e deixa duras criticas ao PS e a António Costa.
O livro conta com o prefácio de Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil, começou a ser redigido em 2018 e chegará às livrarias brevemente.
Em 160 páginas, de acordo com a TVI que acesso à obra, José Sócrates tenta desmontar a tese do Ministério Público, atacando juízes, procuradores e jornalistas.
"Seis meses depois da prisão, um juiz afirma que fui preso sem haver indícios ou factos da prática do crime de corrupção", argumenta.
Sobre o PS, o ex-líder do partido aponta ao dedo à liderança: "Durante estes quatro anos não ouvi por parte da direção do PS uma palavra de condenação desta prepotência. Encontrei nos militantes do PS um apoio e um companheirismo que não esquecerei. Mas a injustiça que agora a direção do PS comete comigo, juntando-se à direita política na tentativa de criminalizar uma governação, ultrapassa os limites do que é aceitável no convívio pessoal e político".
Chegando a afirmar que o comportamento de alguns socialistas lhe provoca "um esgar de repulsa", José Sócrates defende também que o PS perdeu uma hipótese para resolver certos problemas presentes nas autoridades portuguesas.
"O que percebo mal é que o PS não tivesse encontrado uma oportunidade para condenar os abusos e as ilegalidades das autoridades (...) O silêncio não só normalizou os abusos como tornou o PS cúmplice dessas arbitrariedades. No fundo, o silêncio do PS legitimou uma certa política de justiça", considera.
Ainda que nunca escreva o nome do atual primeiro-ministro, o antigo político não deixa de criticar António Costa na obra:
"Como remédio para algo que sempre a assombrou, o único líder que teve uma maioria absoluta deveria ser removido da história do PS. Mas nem sempre as coisas correm como planeado e às vezes os mais maquiavélicos são também os mais ingénuos. Digamo-lo assim, como Ulysses Guimarães, a política ama a traição, mas despreza o traidor."
José Sócrates, inicialmente acusado de 31 crimes, vai a julgamento por três crimes de branqueamento de capitais e três de falsificação de documentos, os mesmos pelos quais Carlos Santos Silva está pronunciado.
Dos 28 arguidos do processo, ficaram pronunciados apenas cinco, tendo sido ilibados, entre outros, os ex-líderes da PT Zeinal Bava e Henrique Granadeiro, o empresário Helder Bataglia e o ex-administrador do Grupo Lena Joaquim Barroca.
Dos 189 crimes imputados pela acusação, num processo que começou a ser investigado em 2013, só 17 vão a julgamento, mas o procurador Rosário Teixeira, responsável pelo inquérito, já anunciou que ia apresentar recurso da decisão para o Tribunal da Relação de Lisboa nos próximos 120 dias.
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