Joana Marques Vidal, antiga Procuradora-Geral da República, considerou, este sábado que é necessário mais "interesse" político e mais "investimento" do Estado no combate à corrupção em Portugal.
Um dia após ter sido divulgada a decisão instrutória da Operação Marquês, a magistrada deixou críticas a quem está no poder.
"Pouca sensibilidade que penso que ainda têm, os titulares de cargos políticos para o facto de a corrupção ser muito mais cara para o Estado do que para os aparentes benefícios económicos que possam advir de atividades económicas que não têm qualquer tipo de fiscalização sobre o ponto de vista da corrupção", afirmou, num debate promovido pelo Instituto Liberdade, citada pela RTP.
Mais, para a ex-Procuradora-Geral da República - cujo mandato ficou marcado pelo arranque da Operação Marquês -, é necessário mais tecnologia e centros de competência especializados que garantam a obtenção de prova mais rápida.
"É importante ter em atenção e investir na utilização dos meios tecnológicos que temos, neste momento, ao dispor, e que em Portugal ainda não são utilizados. Existem muitos programas que permitem o cruzamento das informações que decorrem da prova e uma apresentação da prova em julgamento que permita uma melhor apreensão dos factos", defendeu.
Joana Marques Vidal, que continua a exercer funções no Tribunal Constitucional, deixou ainda criticas ao Governo devido ao atraso na criação da Entidade da Transparência aprovada há dois anos na Assembleia da República, mas que ainda não saiu do papel.
"Desde logo vê-se também o interesse e o investimento que o Estado português faz", atirou.
Importa recordar que, na passada sexta-feira, foi conhecida a decisão instrutória do processo da Operação Marquês.
José Sócrates, inicialmente acusado de 31 crimes, vai a julgamento por três crimes de branqueamento de capitais e três de falsificação de documentos, os mesmos pelos quais Carlos Santos Silva está pronunciado.
Dos 28 arguidos do processo, ficaram pronunciados apenas cinco, tendo sido ilibados, entre outros, os ex-líderes da PT Zeinal Bava e Henrique Granadeiro, o empresário Helder Bataglia e o ex-administrador do Grupo Lena Joaquim Barroca.
Dos 189 crimes imputados pela acusação, num processo que começou a ser investigado em 2013, só 17 vão a julgamento, mas o procurador Rosário Teixeira, responsável pelo inquérito, já anunciou que ia apresentar recurso da decisão para o Tribunal da Relação de Lisboa nos próximos 120 dias.
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