"Castigo imposto a Portimão é injusto, incompreensível e inaceitável"

Isilda Gomes reagiu ao passo atrás no plano de desconfinamento imposto a Portimão, considerando tratar-se de uma decisão injusta, uma vez que o vírus não está disseminado na comunidade daquele município. Revoltada, a autarca apresentou um caderno de encargos ao Governo.

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Melissa Lopes
16/04/2021 15:21 ‧ 16/04/2021 por Melissa Lopes

País

Pandemia

 

"Injusta, incompreensível e inaceitável". Foi desta forma que a autarca de Portimão, Isilda Gomes, reagiu ao recuo imposto ao município no plano de desconfinamento, uma decisão anunciada ontem pelo primeiro-ministro, após mais uma reunião de Conselho de Ministros. 

A autarca do município algarvio apresentou, numa conferência pautada pelo tom de  indignação, os dados da pandemia, os quais  demonstram que a decisão ontem anunciada é "injusta" e que não há disseminação do vírus na comunidade.

Há 22 turmas em isolamento

O número de casos ativos de Covid-19 em Portimão é, neste momento, de 129 e a incidência cumulativa a 14 dias é de 185. À data, há no município, de acordo com a autarca, 757 pessoas em isolamento, e que destes, 50% estão relacionados com a comunidade escolar. Há 22 turmas isoladas nos últimos 14 dias. 

A autarca prosseguiu sublinhando que o Serviço Nacional de Saúde e privados "testaram com PCR 4.046 pessoas  em Portimão".

Quanto à testagem rápida, foram feitos 4.187 testes naquele concelho. Dos 185 positivos, apenas 12 foram identificados na testagem massiva e aleatória. A autarca defendeu que os resultados provam que "não há uma disseminação na comunidade, o que é extremamente importante, e que os surtos estão bem identificados e localizados". 

"O vírus não está disseminado na comunidade"

"A estratégia de testagem massiva rápida, que fique bem claro, não é responsável pelo aumento do número de casos em Portimão. Não é", defendeu a autarca, frisando que a sociedade e a comunidade está perfeitamente em segurança. "Porque o vírus não está disseminado na comunidade". 

Sobre as tendências dos últimos 14 dias, a presidente da Câmara Municipal disse que o surto da construção civil está em decréscimo acentuado, e que os casos na comunidade escolar estão com uma tendência de crescimento.

E posto isso, a autarca contestou que os locais onde não há transmissão do vírus, como é o caso das esplanadas e do comércio, fechem, enquanto que as escolas, locais onde "agora temos a positividade", se mantêm abertas. 

Isilda Gomes realçou ainda que dos novos casos positivos, 25% estão na comunidade escolar. "Isto implicou que 50% dos novos casos registados nos últimos 14 dias estejam nos agregados familiares da comunidade escolar". 

Surtos identificados, controlados e acompanhados

A autarca reforçou que "o vírus não está espalhado nas ruas, nas casas, nas esplanadas". "Têm origem em surtos que estão perfeitamente identificados, controlados e acompanhados". 

Na conferência de imprensa de ontem, António Costa afirmou que as decisões não são nem castigos nem prémios. Mas essa não é a visão de Isilda Gomes. "O castigo que é imposto a Portimão e aos portimonenses é injusto, incompreensível e inaceitável", atirou.

A  socialista considerou a decisão do Governo "uma enorme falta de respeito para com os empresários que lutam no seu dia a dia, para com todos os que trabalham afincadamente", frisando que se não fosse a Câmara "a suprir muitas carências - e sabem bem que nos últimos dois meses já são dois milhões de euros que estamos a lançar na economia -, as pessoas ainda estariam a passar muito pior". 

A autarca argumentou também que o recuo imposto a Portimão é "injusto" porque "quem é responsável não deveria ser prejudicado" e porque "a maioria dos portimonenses cumpriu". Contou que tem recebido "imensas mensagens de revolta" de muitos empresários, "cidadãos que não percebem esta decisão que Lisboa teve para com Portimão". 

Isilda Gomes exigiu medidas "extraordinárias" para Portimão. "Medidas que não sejam injustas para as populações, medidas que não se limitem a paralisar a atividade, a vida das pessoas", disse, apresentando um "caderno de encargos para o Governo". 

"Exigimos o reforço efetivo da fiscalização com o aumento de operacionais nas forças e serviços de segurança, assim como da ACT e da ASAE (...) As pessoas que estão confinadas têm que ser vigiadas. Priorização no reforço da vacinação com entrada imediata em funcionamento do centro municipal de vacinação pronto desde o início de março, que o presidente da ARS teima em não abrir".

"Os portimonenses e os algarvios merecem respeito"

Neste ponto, a autarca lançou um convite ao primeiro-ministro e a ministra da Saúde. "Era a altura de os dois puderem vir visitar o nosso centro de vacinação e também dizer aos portimonenses porque é que têm de recuar", disse. 

Isilda Gomes exigiu também "apoios extraordinários" dirigidos aos setores penalizados neste recuo - restauração e pequeno comércio. Além disso, a autarca pediu a obrigatoriedade do uso de máscara na via pública, o reforço dos profissionais de saúde para acompanhamento dos positivos e que se acrescente a variável do número de testes realizados nos indicadores de decisão de desconfinamento dos concelhos, "valorizando a baixa taxa de positividade sempre que esta se verifique". 

A autarca declarou, por fim, que "chegou agora a altura de o Governo assumir as suas próprias responsabilidades, não deixando à sorte de indicadores injustos a decisão sobre quem avança e quem recua".

"Os portimonenses e os algarvios merecem respeito, ou somos uma região turística, ou não somos. Como todos sabem, o Algarve contribuía, no âmbito do turismo, com 4% do PIB nacional. Ora, ninguém compreende, no Algarve, o atraso no processo de vacinação", algo que a autarca disse ser "revoltante e inaceitável". 

Além de Portimão, há outros três municípios que recuam no plano de desconfinamento. São eles: Moura, Odemira e Rio Maior. Nestes concelhos, voltam a vigorar as regras anteriores, entre as quais o encerramento das esplanadas, das lojas até 200 m2 com porta para a rua, dos ginásios e dos museus, monumentos, palácios, galerias de arte e similares.

Há outros seis concelhos que mantêm as regras atuais, sendo que a generalidade do país avança para a terceira fase do plano. 

Leia Também: AO MINUTO: "Vírus não está disseminado"; Merkel vacinada com AstraZeneca

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