Insultos a humorista francês "não representam" comunidade portuguesa

O humorista lusodescendente José Cruz considerou hoje que a resposta nas redes sociais à crónica de Philippe Caverivière na rádio RTL, em França, sobre estereótipos portugueses não se justifica e não representa a comunidade portuguesa.

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Lusa
24/04/2021 09:14 ‧ 24/04/2021 por Lusa

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"Aquilo foi só uma crónica. Não feita por um jornalista, mas por um humorista. E é uma crónica falhada. Para mim, parou aí. Houve barulho demais, especialmente tendo em conta tudo o que está a acontecer no mundo", afirmou José Cruz, ator e humorista lusodescendente, em declarações à agência Lusa.

A crónica de Philippe Caverivière foi difundida originalmente em janeiro pela RTL, uma das maiores rádios francesas, mas o vídeo começou a circular nas redes sociais há duas semanas.

Na crónica, feita após uma visita recente a Portugal, o humorista disse que ficou "agradavelmente desiludido" e gozou com a forma como os portugueses se vestem. As críticas dirigiram-se ainda a Cristiano Ronaldo, com Philippe Caverivière a considerar que o futebolista é "um bom exemplo do mau gosto português" que se veste "de forma dispendiosa, mas mal".

A resposta massiva por parte da comunidade, e mesmo de uma rádio portuguesa, levou, alguns dias depois, o humorista a pedir desculpa numa nova crónica na RTL.

"Recebi muitas mensagens muito violentas, centenas mesmo. Algo muito longe do que diria o poeta Fernando Pessoa, com muitas ameaças físicas", relatou Caverivière aos microfones da RTL.

A Frantugal, um novo projeto de televisão 'on demand' lusodescendente, entrevistou o humorista e tentou mediar através das suas redes sociais a resposta da comunidade.

"Vimos nas redes sociais da RTL muitos comentários e insultos ao humorista da RTL. Não queremos que os portugueses tenham essa imagem, de pessoas vulgares. E tentámos estabelecer uma discussão e um diálogo com essas pessoas, um género de mediação, porque o nosso canal quer ser uma ligação entre os dois países", disse Michael Mendes, fundador da Frantugal.

Para José Cruz, esta é uma situação que não representa a comunidade portuguesa.

"As reações não representam em nada a posição e a imagem que a comunidade portuguesa sempre teve na sociedade francesa", justificou.

Brincando também com os preconceitos ainda existentes na sociedade francesa sobre os portugueses nos seus espetáculos e nas suas redes sociais, José Cruz diz que também ele já foi várias vezes ameaçado.

"As primeiras ameaças começaram nas minhas redes sociais. [...] Estamos a chegar a um ponto de auto-censura. Há uns meses fiz uma piada sobre o Sporting num dos meus vídeos, em que não insultei ninguém, e não se imagina os insultos que recebi", referiu, enumerando que as ameaças não vêm só de França, mas também de Portugal e outros países.

De forma a proteger-se, José Cruz deu conta da ocorrência destas ameaças numa esquadra da polícia e tenciona continuar a fazê-lo, já que as ameaças sobem cada vez mais de tom.

"Eu recebi entre cinco e dez ameaças por dia. Em 24 horas imagine-se o que ele recebeu. Contra ele e contra a família dele. [...] Quando há um problema, as pessoas podem fazer uma queixa. Não se deve utilizar as redes sociais para se fazer justiça", sublinhou.

Segundo Michael Mendes há uma pedagogia a fazer junto da comunidade em relação às subtilezas do humor francês e também como combater os estereótipos.

"Os portugueses de França ficam muito magoados com as críticas e o próprio humor francês, que é subtil. E até pode ser chocante porque há uma imagem muito antiga ligada aos portugueses que foi referida e que nós já não aceitamos", declarou.

José Cruz sugere assim aos lusodescendentes como ele que se lembrem das piadas que a comunidade conta entre si sobre os franceses e que, acima de tudo, não passa de humor.

"Quando estamos entre nós, não se esqueçam de todas as piadas que fazemos e ouvimos sobre os franceses. E quando essas piadas passam na rádio em Portugal, não são menos fortes do que o que se ouviu na RTL", concluiu.

Leia Também: A reação do radialista francês à resposta de Luís Franco-Bastos

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