Os holofotes estão apontados para Odemira desde sexta-feira, altura em que foi imposta uma cerca sanitária a duas freguesias do concelho alentejano, devido à elevada incidência de casos de Covid-19.
Os habitantes revoltaram-se. Numa altura em que o país está a desconfinar e a voltar à normalidade a passos largos, Odemira voltou a parar.
Mas esta situação expôs mais do que a crise no turismo e na restauração que se estende a todo o território nacional. Tal como salientou o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, uma das características da pandemia “é virar os holofotes para um conjunto de vulnerabilidades, de necessidades da nossa sociedade, em várias áreas”. E em Odemira ficou a nu o fluxo migratório descontrolado, que a Polícia Judiciária (PJ) já investigava, tal como referiu à Lusa o presidente da Câmara, José Alberto Guerreiro.
Contudo, o Governo quer tratar da saúde primeiro e só depois olhar para as ilegalidades.
As restrições às duas freguesias de São Teotónio e Almograve-Longueira mantém-se e a vacinação foi acelerada, antecipando, em cerca de 10 dias, aquilo que é a realidade do resto do país.
Nos cinco postos reforçados com oito enfermeiros do Exército, terão sido administradas 2 mil vacinas até esta segunda-feira, o que garante pelo menos a primeira dose a todos com mais de 60 anos.
30 pessoas na mesma moradia a 150 euros cada
Um dos problemas de Odemira é que os migrantes, normalmente da Ásia ou Norte de África, não têm condições para ter uma habituação. Então, juntam-se às dezenas numa só moradia. Algo que, tal como frisou o ministro da Defesa Nacional, “foi-se desenvolvendo ao longo de muitos anos, ao longo de décadas”, mas que, em tempos de pandemia, torna-se ainda mais perigoso, do ponto de vista sanitário.
A SIC Notícias mostrou, este domingo, uma moradia, na Zambujeira do Mar, onde, habitualmente, vivem mais de 30 pessoas, amontoadas em beliches, em pequenos compartimentos, onde a roupa se confunde com os alimentos.
Cada inquilino chega a pagar 150 euros por estas condições, que agora ajudaram na propagação e difícil contenção da Covid-19.
PJ investiga queixas de tráfico humano e escratura
A PJ está a investigar crimes de tráfico humano, escravatura e auxílio à imigração ilegal em Odemira, avançou, esta segunda-feira, a TVI 24.
O presidente da Câmara de Odemira já tinha revelado à Lusa que denunciou, há cerca de dois anos, a situação à PJ e que até já foi ouvido pelos inspetores, sobre o facto de existirem "muitos trabalhadores migrantes no concelho".
Segundo o autarca, existem estabelecimentos comerciais em Odemira que "têm um conjunto de empregados que não é justificado pelo espaço", nomeadamente "supermercados com 200 metros quadrados" de área e que "têm 30 ou 40 trabalhadores".
"Há espaços de venda ao público de bebidas que têm dez vezes mais empregados do que é normal, mas também existem outras questões muito estranhas, em que muitos dos negócios são em dinheiro", apontou ainda o presidente de Odemira.
O canal de Queluz garante agora que, além do testemunho de José Alberto Guerreiro, a PJ está a investigar mais queixas e encontra-se em "fase de recolha de prova".
Leia Também: Vistoria identifica locais sobrelotados e necessidade de mudar pessoas