"No que vos toca, tendes hoje a missão e a responsabilidade de levar este caminho sem limite de horizonte, sem cedência de princípio, com abertura de perspetiva, do mesmo modo que isso aconteceu durante 46 anos", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, referindo-se em parte ao legado deixado pela imunologista Maria de Sousa.
Durante a sessão que assinalou o 46.º aniversário do ICBAS e onde foi prestado um tributo à imonulogista Maria de Sousa, o chefe de Estado deixou um apelo para que o instituto da Universidade do Porto continue a ser "um exemplo de liberdade, de democracia, de serviço de comunidade, exigência, rigor e abertura de horizontes".
"Uma escola que, aos 46 anos, continua a ser uma escola de futuro", realçou.
Lembrando o legado deixado pela imunologista, que morreu o ano passado vítima de covid-19, Marcelo Rebelo de Sousa destacou como esta "acreditava que o futuro se constrói hoje e como nunca desistiu de lutar".
"Deixa-nos de legado o lema de que tudo importa saber para conhecer algum", referiu, dizendo-se impressionado pela "doce lucidez com que Maria de Sousa se preparava para partir".
Também presente na sessão, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, recordou que Maria de Sousa "levou a língua, cultura e o pensamento português a todo o mundo".
"Hoje lançamos um livro que resultou de reflexões com Maria e que é de fotografia, mas que nos lança perguntas. Maria dizia que quem não faz perguntas, não tem respostas", disse o ministro, acrescentando que o livro retrata a mobilização da ciência portuguesa face à 2.ª vaga da covid-19.
"A ciência é cura, mas sobretudo é um campo de batalha", realçou Manuel Heitor, destacando ainda o papel dos médicos e técnicos portugueses que "conseguiram fazer o combate".
A sessão contou com o descerramento de uma placa de homenagem à imunologista nascida em Lisboa em 1939, onde, além do Presidente da República e do ministro da Ciência, esteve também presente o reitor da Universidade do Porto, António de Sousa Pereira e o diretor do ICBAS, Henrique Cyrne de Carvalho.
Cientista, escritora, professora universitária, Maria de Sousa lecionou em Inglaterra, Escócia e Estados Unidos, depois de ter saído de Portugal ainda durante o Estado Novo, em 1964. Regressaria já no período democrático, em 1985, passando a professora catedrática de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no Porto.
Era professora Emérita da Universidade do Porto e investigadora honorária do i3S - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde. Era ainda membro do júri do Prémio Pessoa.
As suas descobertas foram publicadas na revista Journal of Experimental Medicine e na revista Nature, respetivamente em janeiro e dezembro de 1966. O título do primeiro artigo científico com as descobertas de Maria de Sousa é precisamente "Áreas dependentes do timo nos órgãos linfáticos em ratinhos recém-nascidos timectomizados".
Mais tarde, em 1971, Maria de Sousa deu um nome ao fenómeno de migração dos linfócitos de diferentes origens - tanto do timo como da medula óssea, onde se forma outro tipo de linfócitos - com destino a microambientes específicos nos órgãos linfáticos periféricos e aí se organizarem em áreas bem delineadas. Chamou-lhe "ecotaxis".
Recebeu o Grande Prémio Bial de Medicina em 1995, o Prémio Estímulo à Excelência em 2004 e a Medalha de Ouro de Mérito Científico em 2009, ambos atribuídos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Seguiram-se o Prémio Universidade de Coimbra 2011 e o Prémio Universidade de Lisboa 2017.
Foi condecorada por três presidentes da República: em 1995 por Mário Soares com o grau de grande-oficial da Ordem Infante D. Henrique, em 2012 por Aníbal Cavaco Silva com o grau de grande-oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e em 2016 por Marcelo Rebelo de Sousa com a grã-cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.
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