A agência Lusa encontrou o grupo de imigrantes no exterior do complexo, para onde foram transferidos esta madrugada, num ambiente calmo na esperança que os técnicos da Segurança Social respondam a algumas das suas dúvidas.
Ao serem abordados, não recuaram, mas apontaram na direção de um dos jovens que se encontrava sentado à porta da residência temporária: "Ele fala", disseram, por detrás das máscaras.
"Estava, em São Teotónio, numa boa casa e com transporte para ir trabalhar. Aqui não sabemos e queremos que a Segurança Social nos diga se há transporte porque é melhor para ir trabalhar. Se não houver vou arranjar uma nova casa para ir trabalhar", explica Singh Gurwindier, há 13 anos em Portugal.
A maior parte dos trabalhadores que foram realojados na Pousada da Juventude, mesmo na entrada da pacata aldeia de Almograve, não fala português, por isso é Singh, de nacionalidade indiana, que conta "a aventura" que viveram durante a madrugada.
"Perto da meia-noite chegaram a São Teotónio e pediram para arrumar a casa, guardar o material para vestir e para comer e chegamos aqui quase às três horas da manhã", conta com um ar cansado.
Durante toda a semana, "estivemos a trabalhar, mas agora com esta situação não nos dizem se temos transporte para continuar o nosso trabalho", prossegue.
"Ontem e anteontem toda a gente teve de fazer teste e todos negativos", sorri o jovem trabalhador migrante que espera regressar ao trabalho "já amanhã" porque "sem trabalhar não ganha nada".
Sobre a cerca sanitária nas freguesias de São Teotónio e Longueira-Almograve e os relatos de tráfico de seres humanos, sobrelotação de pessoas e de violação dos direitos humanos, Singh Gurwindier espera que sirva para que "algo mude".
"Quero continuar em Portugal, porque aqui é melhor", conclui.
Na conferência de imprensa, que se realizou hoje, nos Paços do Concelho, em Odemira, o responsável da Proteção Civil disse aos jornalistas que "o transporte dos trabalhadores para os campos agrícolas está assegurado, bem como o acesso a todos os bens essenciais".
"A operação foi feita num âmbito de um despacho governamental e foi desencadeada de forma a respeitar os direitos das pessoas envolvidas", destacou José Ribeiro.
As freguesias de Longueira-Almograve e São Teotónio, no concelho de Odemira, estão em cerca sanitária desde a semana passada por causa da elevada incidência de covid-19.
António Costa sublinhou, há uma semana, quando o Conselho de Ministros decretou a cerca sanitária, que "alguma população vive em situações de insalubridade habitacional inadmissível, com hipersobrelotação das habitações", relatando situações de "risco enorme para a saúde pública, além de uma violação gritante dos direitos humanos".
Na altura, num despacho em Diário da República, com efeitos imediatos, o Governo decretou "a requisição temporária, por motivos de urgência e de interesse público e nacional, da totalidade dos imóveis e dos direitos a eles inerentes que compõem o empreendimento 'ZMar Eco Experience', localizado na freguesia de Longueira-Almograve".
O Governo decidiu enviar também imigrantes para a Pousada da Juventude de Almograve.
Hoje, cerca de 50 imigrantes que trabalham na agricultura na região foram realojados durante a noite no complexo turístico Zmar (21 pessoas) e na Pousada da Juventude de Almograve (30), disse à Lusa o responsável da Proteção Civil no Alentejo, José Ribeiro, que garantiu que todas as pessoas deste grupo estão negativas para o novo coronavírus, que provoca a covid-19.
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